Título: Crédito cai 20% e reforça a crise
Autor: Nunes, Vicente
Fonte: Correio Braziliense, 11/04/2009, Economia, p. 15

Mudança de comando no Banco do Brasil reflete desespero do governo com derrocada da oferta de dinheiro na economia. Disponibilidade de financiamento encolhe no primeiro trimestre deste ano

Por trás da desastrosa demissão de Antonio Francisco de Lima Neto da presidência do Banco do Brasil está o desespero do governo. Dados preliminares do Banco Central indicam que as concessões de crédito fecharam o primeiro trimestre do ano com queda próxima de 20%, praticamente selando a recessão econômica do país ¿ dois trimestres consecutivos de contração do Produto Interno Bruto (PIB). Crédito em baixa significa menos consumo e menos investimentos produtivos. O governo contava que uma ação mais forte dos bancos públicos no início do ano, liberando empréstimos e cortando juros, fosse suficiente para suprir as deficiências do mercado provocadas pela crise mundial. Mas não foi. E Lima Neto pagou o preço da frustração, acusado de não aderir ao projeto governamental.

¿Não tem jeito. Não foi apenas no primeiro trimestre que o crédito encolheu. Os quatro primeiros meses do ano podem ser dados como perdidos¿, disse o presidente da Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimentos (Acrefi), Adalberto Savioli. Segundo ele, a retração foi geral, mas o impacto maior se deu nos financiamentos ao setor produtivo. Houve queda em todas as linhas voltadas a empresas, algumas, em mais de 30%. ¿A expectativa é de que, com a economia recuperando o fôlego no segundo semestre e a inadimplência se estabilizando, as concessões de crédito comecem a voltar¿ afirmou.

A retomada do fôlego não será, porém, suficiente para que o mercado cresça os 14% projetados pelo BC. ¿Nas nossas contas, a expansão sobre 2008 ficará entre 8% e 9%¿, frisou Savioli. É que, além de participantes importantes do mercado ¿ os bancos de médio e pequeno portes ¿ só agora estarem voltando a emprestar, há um problema de demanda. ¿Os empresários suspenderam os investimentos porque temem ampliar a produção e não ter para quem vender. Então, não precisam de financiamentos¿, explicou a economista Luíza Rodrigues, do Banco Santander. Já os consumidores evitam o endividamento porque há o risco de alguém da família perder o emprego, reduzindo a renda disponível para arcar com as prestações.

O grande vilão Sendo assim, assinalou o economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio (CNC), Carlos Thadeu, não há como o governo esperar mudanças significativas no crédito ao longo deste ano, forçando o BB a emprestar mais barato. ¿Há dinheiro de sobra no mercado. O que falta é confiança na economia. Enquanto a confiança não voltar, as concessões de crédito continuarão caindo¿, frisou. ¿O crédito se tornou o grande vilão. E sua correlação com o PIB é enorme. Quando o crédito cresce, o PIB vai junto. Vimos isso a partir de 2004.¿

No entender do vice-presidente de Finanças da Caixa, Márcio Percival, o pior momento para o mercado de crédito já passou. ¿Estamos vendo uma demanda bem aquecida por parte das empresas e dos consumidores¿, disse. ¿Só em operações estruturadas (por meio da emissão de notas promissórias e debêntures) para grandes empresas, estamos analisando pedidos de mais de R$ 1 bilhão. Também estamos atendendo pedidos de pequenas e médias empresas fornecedoras de companhias exportadoras, que ficaram com escassez de capital de giro¿, contou. Por isso, a Caixa está apostando que sua carteira de crédito crescerá 36% neste ano, mais do que o dobro da estimativa mais otimista de incremento para todo o mercado, de 16%.

Percival reconheceu, porém, que parte do aumento do crédito concedido pela Caixa decorreu da migração de empresas, especialmente as pequenas e médias, que eram atendidas pelos bancos de menor porte, cujas carteiras encolheram até 50%. ¿O crédito voltará, evitando que a economia entre em recessão¿, afirmou.