Título: Ativistas cobram localização de restos de Jonas
Autor: Franco, Bernardo Mello
Fonte: O Globo, 31/08/2009, O País, p. 4

Revelação de dossiê secreto em que Exército admite responsabilidade por morte de guerrilheiro aumenta pressão

BRASÍLIA. A revelação do dossiê secreto em que o Exército assumiu a responsabilidade pela morte de Virgílio Gomes da Silva, o Jonas, aumentou a pressão pela localização dos desaparecidos políticos da ditadura militar. A ativista Rose Nogueira, diretora do grupo Tortura Nunca Mais, disse que pedirá na Justiça novas buscas pela ossada do guerrilheiro e de outros mortos pela repressão. O ministro Franklin Martins, da Secretaria de Comunicação Social, também defendeu as buscas e a punição dos torturadores.

Com base nos documentos revelados ontem pelo GLOBO, Rose Nogueira quer obrigar a União a localizar a ossada de Jonas, morto sob tortura em 29 de setembro de 1969. Ela vai se reunir hoje com a viúva do guerrilheiro, a aposentada Ilda Martins da Silva, de 78 anos, e pretende pedir ajuda ao Ministério Público Federal.

Ativistas querem que MP puna torturadores

Rose acredita que Jonas teria sido enterrado no cemitério de Vila Formosa, em São Paulo.

¿ Vamos entrar imediatamente com uma ação judicial para acelerar as buscas. Tudo indica que ele foi mesmo enterrado no local apontado na reportagem ¿ disse.

O presidente da Comissão de Mortos e Desaparecidos Políticos, Marco Antonio Barbosa, também saiu em defesa das buscas. Ele disse que o órgão está à disposição para ajudar no reconhecimento genético, caso a ossada seja encontrada. E afirmou que o MP pode ajuizar ação para tentar punir os torturadores:

¿ A busca tem que ser feita, em nome do resgate da verdade e da memória. Isso não impede que o Ministério Público, de forma independente, tente responsabilizar os autores do crime.

Idealizador do sequestro do embaixador americano Charles Burke Elbrick, que foi comandado por Jonas, Franklin Martins disse que os responsáveis pela morte do ex-companheiro devem ser punidos.

¿ As autoridades da época eram responsáveis pela segurança dos presos. Se o Jonas morreu na Operação Bandeirante, como o Exército admite neste documento, elas têm que dar satisfações. É um tipo de crime que em hipótese alguma está coberto pela Lei de Anistia ¿ disse o ministro.

Irmão de Jonas presenciou assassinato

A validade da Lei de Anistia para torturadores deve ser julgada este ano pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Franklin lembrou que a Suprema Corte do Chile ameaçou condenar os militares da ditadura Pinochet por sequestro continuado, o que os levou a indicar o paradeiro de ossadas.

¿ Um filho que não pode enterrar o pai não tem por que se conformar. Na ¿Ilíada¿, os gregos e os troianos paravam a guerra para enterrar os seus mortos. Aqui, dezenas de vítimas da ditadura estão desaparecidas até hoje ¿ disse.

Jonas é considerado o primeiro desaparecido político da ditadura. Ele sumiu 12 horas depois de ser detido por agentes da Operação Bandeirante (Oban), em São Paulo. Segundo relatos de ex-presos, foi morto após se recusar a dar qualquer informação aos torturadores. Seu irmão, Francisco Gomes da Silva, foi uma das testemunhas do assassinato.

Em depoimento à Justiça Militar, Silva disse que Jonas chegou ao cárcere ¿com mãos algemadas para trás, enfrentando cerca de 15 pessoas, dando-lhes pontapés e cuspindo neles ao mesmo tempo em que era cuspido e agredido por todas aquelas pessoas¿.