Título: Capitalização derruba as ações da Petrobras
Autor: Rangel, Juliana; Barbosa, Flavia
Fonte: O Globo, 01/09/2009, Economia, p. 21

Operação seria a maior do tipo já feita no país. Para participar, investidor em fundos FGTS terá de usar recursos próprios

Juliana Rangel, Flavia Barbosa, Gustavo Paul e Ramona Ordoñez

RIO e BRASÍLIA. A confirmação de que a Petrobras fará uma megacapitalização e as informações desencontradas ao longo do dia sobre como seria a operação fizeram as ações da companhia fecharem ontem na maior queda em quase seis meses na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa).

Pela manhã, a Petrobras divulgou um fato relevante ao mercado em que apenas citou a operação, sem dar detalhes. Os papéis ordinários (com direito a voto) caíram 4,48%, e as preferenciais (sem direito a voto) caíram 3,59%. As ADRs, recibos de ações negociados nos Estados Unidos, despencaram 4,41%, na maior queda do setor.

A única informação sobre possíveis valores para a operação durante o dia foi imprecisa e coube ao líder do governo no Senado, Romero Jucá. Ele disse que a capitalização seria de US$ 50 bilhões, mas não explicou se essa seria a parcela da União ou o valor total do levantamento de capital

Investidor não poderá usar FGTS na operação No fim da tarde, fontes do governo explicaram que essa capitalização seria equivalente aos cerca de 40% de participação da União no capital total da Petrobras (considerando os 32,21% da União e os 7,62% da BNDESPar).

Pela Lei das SA, os demais acionistas têm o direito de fazer uma oferta na mesma proporção da sua participação. Numa hipótese considerada improvável pelo governo, se todos os minoritários exercessem esse direito, a capitalização chegaria a cerca de US$ 125 bilhões.

¿ É provavelmente a maior capitalização do mundo. Dependendo de como for feita, poderá diluir a fatia dos acionistas minoritários na companhia ¿ disse Eduardo Roche, gerente de análises do Modal Asset.

Segundo Roche, a cada R$ 10 mil em ações da empresa, o investidor terá que investir mais R$ 4,5 mil para manter sua participação.

Se não, terá sua fatia diluída em 45%. A situação será ainda pior para quem aplicou recursos do FGTS. Para participar da operação, esse investidor terá que desembolsar recursos próprios, já que o governo não vai autorizar a utilização do dinheiro do Fundo.

Para o sócio da Adinvest Consultoria Fabio Carvalho, o pior foi a indefinição.

¿ A diluição é o de menos.

O pior é que não se sabe como se daria a entrada do governo na operação, via títulos, via a promessa futura de entrega de petróleo ou com dinheiro.

Antes de a capitalização da Petrobras ocorrer, o governo precisa definir quantos bilhões de barris de petróleo vai ceder, sem licitação, para a exploração exclusiva da estatal. Isso porque os recursos que a Petrobras vai usar para pagar pelos barris serão reinvestidos pela União na estatal, na forma de aumento de sua participação no capital total da empresa.

Um dos quatro projetos de lei enviados pelo governo ao Congresso prevê a cessão do direito de exploração de até 5 bilhões de barris na área do pré-sal que fica entre os blocos que a Petrobras já possui no cluster da Bacia de Santos. Considerando-se o custo estimado hoje de comercialização das reservas, o barril valeria US$ 10. Portanto, se a União decidisse hoje repassar todos os 5 bilhões de barris, a esse preço a Petrobras terá que pagar-lhe US$ 50 bilhões, em títulos públicos ou moeda.

¿ É por isso que o mercado tremeu. Essa será a maior operação de capitalização da história corporativa do Brasil ¿ afirmou uma fonte do governo.

A expectativa não oficial é que os minoritários devem aportar apenas 20% do que têm direito. Isso vai aumentar efetivamente a participação ¿ e portanto o controle ¿ que a União tem na estatal. Essa é uma meta do atual governo.

Com a queda das ações da Petrobras, o Ibovespa, principal índice da Bolsa, fechou em queda de 2,10%, puxado também por outras ações ligadas a commodities, em função do risco de uma bolha na China. O dólar subiu 0,43%, a R$ 1,89.

Alvo de CPI, Petrobras ganha força com pré-sal Num momento em que é alvo de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) e recebe denúncias de irregularidades, a Petrobras ganha nova força com o pré-sal. Com a fatia de 30% garantida nos blocos do pré-sal, ela poderá ter acréscimo de 24 bilhões de barris de petróleo em suas reservas, considerandose estimativas de que a região tenha até 60 bilhões de barris em reservas.

Mas a Petrobras também pode ter dificuldades com o aumento de funções. Caberá a ela vender e refinar a produção futura do pré-sal. A Petrobras prevê investir US$ 11,4 bilhões no pré-sal até 2020, quando estima estar produzindo ao todo 1,8 milhão de barris diários.

A empresa também deverá saltar no ranking mundial de produtores. Atualmente, com os atuais 14 bilhões de barris de reservas provadas, ela é a quarta maior do mundo, atrás de Exxon Mobil, BP e Shell.