Título: Unidos no nepotismo cruzado
Autor: Rocha, Marcelo
Fonte: Correio Braziliense, 12/04/2009, Política, p. 3

Enquanto o senador pedetista João Durval emprega um cunhado do deputado distrital Raimundo Ribeiro, o político brasiliense mantém, no gabinete da Câmara Legislativa, uma neta do parlamentar baiano

Durval e Ribeiro: um é senador, o outro, distrital, mas cada um emprega um parente do outro Eleitos para casas legislativas distintas, por estados e partidos diferentes, o senador João Durval (PDT-BA) e o deputado distrital Raimundo Ribeiro (PSL) têm uma preocupação em comum: não deixar parentes desamparados. À margem da súmula do Supremo Tribunal Federal (STF) que condenou o nepotismo na administração pública, o pedetista do Senado emprega um cunhado de Ribeiro e, em contrapartida, tem uma neta comissionada no gabinete do distrital.

Casado com Paula Patrícia, irmã de Ribeiro, Carlos Augusto Dalla Corte ocupa, desde maio de 2007, cargo de assistente parlamentar na Liderança do PDT do Senado. A vaga faz parte da cota a que tem direito João Durval. Em março do ano passado, Ribeiro retribuiu o gesto. Andrea Carneiro e Pedreira, neta do senador baiano, foi nomeada para a Câmara Legislativa. E trabalha no escritório de Raimundo Ribeiro localizado no Grande Colorado, nicho político do distrital.

Às 11h da última quarta-feira, o Correio tentou localizar Carlos Augusto, mais conhecido como Guto, no Senado. Uma secretária da Liderança do PDT disse não saber de quem se tratava. Chamou um outro funcionário, que também afirmou desconhecê-lo: ¿Carlos Augusto Dalla Corte? Ele trabalha com qual senador? Ele deve ficar no gabinete do senador ou no estado¿.

A reportagem apurou que naquele momento Carlos Augusto estaria a serviço de Raimundo Ribeiro do outro lado da cidade, no Grande Colorado. Coincidência ou não, na companhia de Andrea. Pelo menos, foi assim a informação repassada à reportagem por um funcionário do escritório político do distrital. ¿Os dois saíram aqui e foram resolver uma questão no Vale das Acácias (um condomínio), o pessoal da comunidade pediu para dar um apoio lá. Antes do meio-dia, eles devem estar aqui¿, explicou um funcionário, ao ser perguntado sobre Carlos Augusto e Andrea.

Debandada No ano passado, os ministros do Supremo baniram a contratação de parentes no serviço público. Quase 100 pessoas foram enxotadas do Senado por causa de laços familiares com parlamentares ou diretores. À lupa das autoridades, no entanto, escapam situações como a que envolve os gabinetes do senador Durval e do distrital Ribeiro: o chamado nepotismo cruzado.

Durval não estava em Brasília na quarta, mas seu chefe de gabinete, Marcos Parente, assumiu o ônus do ajuste que garantiu o emprego à neta do patrão e ao cunhado de Ribeiro. ¿Ele (Durval) não contrata parente. Eu assumi a questão. Eu fui atrás¿, afirmou. E admitiu que Carlos Augusto foi acomodado, ainda em maio de 2007, na Liderança do PDT na cota do parlamentar, em atendimento ao pedido de ¿um amigo¿, Roberto Soares, então chefe de gabinete de Ribeiro. ¿Não conheço esse rapaz (Carlos) nem para fazer remédio. Se é preto, branco, azul ou amarelo¿ não sei.¿ Parente ressalta que a nomeação de Andrea ocorreu um ano depois, em março de 2008, o que desvincularia um caso do outro.

A versão do distrital do PSL, porém, aponta em outra direção. Segundo Ribeiro, ele tinha a intenção de contratar a moça desde 2007. ¿A Andrea é minha vizinha. Ela me ajudou na campanha. E eu, inclusive, ia colocar para trabalhar comigo logo que assumi (em janeiro de 2007). Como tive que assumir a Secretaria de Justiça, então não pude. Agora, quando tive a oportunidade, eu a coloquei para trabalhar no gabinete¿, explicou ele, embora negue qualquer ajuste com João Durval, a quem fez uma visita de cortesia em novembro passado. Ciceroniado por quem? Por Andrea.

Ribeiro afirmou ainda que Carlos Augusto não trabalha para ele, mas admitiu que recebe a colaboração eventual do servidor, ¿assim como de outros cunhados¿. ¿(Ele) não trabalha para mim. Conto com a ajuda de amigos, de parentes nos fins de semana. Eles sempre vão ao escritório, ao gabinete. Debitam na conta da nossa amizade.¿