Título: País envelhece, mas sem oferecer infraestrutura para idosos, diz IBGE
Autor: Menezes, Maiá
Fonte: O Globo, 03/09/2009, O País, p. 10

Estudo mostra que 75,5% dos maiores de 60 anos têm doenças crônicas

Os brasileiros estão vivendo cada vez mais, mas o país não vem oferecendo aos idosos infraestrutura suficiente para garantir uma velhice saudável. A conclusão é do estudo ¿Indicadores demográficos e de saúde no Brasil¿, divulgado ontem pelo IBGE. Estimada em 33,7 anos em 1900, a expectativa de vida ao nascer de um brasileiro, que em 2005 era de 72,1 anos, em 2030 deverá ser de 78,33. Atingidos por doenças crônicas (o percentual era de 75,5% em 2003), a grande maioria deles (71%) não tem plano de saúde e, portanto, depende do sistema público, onde a oferta de equipamentos para exames, também segundo dados da pesquisa do IBGE, é menor em relação à rede privada.

¿Os grandes centros urbanos, embora já apresentem um perfil demográfico semelhante ao dos países mais desenvolvidos, ainda não dispõem de uma infraestrutura de serviços que dê conta das demandas decorrentes das transformações demográficas vigentes¿, atesta o estudo.

Oferta de equipamentos de diagnóstico é desigual Embora dentro dos parâmetros da portaria 1.101 do Ministério da Saúde, em quase todos os casos (com exceção do raio X para densitometria óssea) a oferta dos equipamentos entre os setores público e privado é desigual. Dados do novo estudo, retirados da Pesquisa de Assistência Médico Sanitária, de 2005, mostram, por exemplo, que o número de aparelhos de ultrassom chegava a 246,8 por um milhão de habitantes nos hospitais privados e era de apenas 31,3 no Sistema Único de Saúde. O custo da internação per capita no SUS também aumenta com a idade: R$ 93 por idoso na faixa etária de 60 a 69 anos, para R$ 179 entre os com 80 anos ou mais.

¿ Esses dados nos colocam, além da discrepância, a possibilidade de que a falta de acesso possa prejudicar o atendimento ¿ diz o pesquisador Marco Antônio Andreazzi, do IBGE, ressaltando que, apesar de menor do que no setor privado, o número de equipamentos para diagnóstico no setor público cresceu 20% em 2005 em relação a 1999.

O câncer passou a matar mais idosos, segundo dados do Ministério da Saúde utilizados pela pesquisa do IBGE. De 1996 para 2005, o percentual das pessoas com mais de 60 anos que morreram com neoplasias passou de 13,3% a 16%. A ¿responsabilidade em proteger o contingente de idosos, em processo de crescimento¿, apontada pelo estudo, se confirma por outra projeção: enquanto em 2000, para cada grupo de 100 pessoas em idade ativa, 13,1 eram idosos, em 2050, esse número chegará a 52,1, segundo o instituto.

A série histórica divulgada pelo IBGE mostra que, até meados do século passado, o brasileiro vivia em média trinta anos a menos do que nos primeiros anos do século XXI.

O retrato traçado pela pesquisa evidencia ainda as distorções, já nos anos 40: o Nordeste tinha expectativa de vida de 36,7 anos, o Sul, de 49,2; o CentroOeste, de 47,9 anos; e o Sudeste, de 43,5 anos. A distância entre as regiões diminuiu a partir de 2005. Entre o Nordeste e o Sul, passaram a 5 anos.

Os dados IBGE registram a queda da taxa de fecundidade entre as brasileiras: em 46 anos, passou de seis para 2 filhos. De acordo com o instituto, os dados, de 2006, permitem dizer que a taxa mantém a população próxima da estabilidade, em termos de crescimento. A tendência de redução dessa taxa atinge as mulheres mais e menos instruídas.

Em 1970, mulheres com até três anos de estudo tinham uma média de 7,2 filhos. Com oito anos ou mais de escolaridade, elas tinham 2,7 filhos. Em 2005, esses índices eram de 3 e 1,4 filhos. Houve ainda aumento na proporção de mães que realizaram exames pré-natal ¿ de 54,5% entre 2000 e 2006. Outro dado compilado pelo IBGE é o percentual de cesarianas, já correspondentes a 43% dos partos realizados no Brasil, quando a recomendação da Organização Mundial da Saúde é que o índice seja de 15%.

Mulheres vivem 7,6 anos a mais que homens A publicação do IBGE volta a ressaltar que a violência, que atinge mais os homens jovens, dá às mulheres uma sobrevida de 7,6 anos em relação aos homens.

No Sudeste, essa diferença chega a 9 anos. Em 2005, as causas externas reduziam em 3,4 anos na expectativa de vida dos homens. Para as mulheres, a perda era de 0,65 ano.

A pesquisa abrangeu ainda a população indígena brasileira, mostrando um crescimento de 10,8% ao ano. Eles passaram de 294 mil para 734 mil e somam 0,4% da população