Título: Exclusividade da Petrobras no pré-sal preocupa cadeia de fornecedores
Autor: D'Ercole, Ronaldo; Rodrigues, Lino
Fonte: O Globo, 03/09/2009, Economia, p. 29

Indústria nacional perde capacidade de negociação, afirma diretor da Onip

SÃO PAULO. A definição pelo governo de que a Petrobras será a única operadora dos consórcios na exploração das reservas de óleo e gás do pré-sal causou desconforto entre as indústrias da cadeia de fornecedores do setor. O papel monopolista dado à estatal pelo modelo do governo preocupa porque restringe a capacidade de negociação das empresas fornecedoras e compromete a competitividade no setor, segundo avaliação do diretorgeral da Organização Nacional da Indústria de Petróleo (Onip), Eloy Fernández Y Fernández.

¿ Preocupa ter um único operador. Isso pode ser um elemento de não competitividade da indústria do país no cenário internacional ¿ afirmou Fernández.

O presidente da Onip argumentou, porém, que como se trata de uma questão em discussão, o problema da exclusividade da estatal junto aos seus fornecedores pode ¿ser compensado de outra maneira¿.

Mas não deu uma indicação de como isso se daria.

¿ É uma preocupação lá para a frente, e é preciso dar tempo ao tempo para ver como as coisas vão se materializar ¿ disse o executivo.

Segundo ele, a descoberta da nova reserva no Golfo do México, anunciada ontem pela British Petroleum (BP) e que tem a Petrobras como sócia com 20% de participação, pode fazer com que a estatal brasileira encaminhe novos pedidos à indústria ainda antes das encomendas destinadas ao pré-sal.

¿ A preocupação hoje é atender a demanda já colocada. Existe um investimento imenso no pós-sal, em parques de refino, e isso é que vai qualificar e dar condições de competitividade à indústria nacional ¿ disse.

Fernández lembrou ainda que o fato de a Petrobras atuar também em mercados internacionais pode minimizar o problema, na medida em que a estatal tende a seguir critérios internacionais nas compras.

Odebrecht: capacidade instalada pode ser problema Um dos convidados de um jantar que reuniu ontem o presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, e um grupo de 40 empresários em São Paulo, Marcelo Odebrecht, presidente do grupo Odebrecht, manifestou preocupação com a possibilidade de a estatal adotar um ritmo de execução dos projetos no pré-sal maior que a capacidade da indústria. A obtenção dos recursos para financiamento dos projetos foi outro ponto citado por ele.

¿ A questão do financiamento dos projetos também é um ponto complicado, porque envolve muito dinheiro e não é tão simples assim ¿ disse Odebrecht, referindo-se aos recursos adicionais que o governo promete disponibilizar à estatal via BNDES.

Para o economista da Unicamp e ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Júlio Gomes de Almeida, questões como as levantadas pela indústria, serão resolvidas na medida em que se avançar na discussão do novo modelo.