Título: Reeleição presidencial, a febre da vez
Autor: Azevedo, Cristina
Fonte: O Globo, 03/09/2009, O Mundo, p. 32

Cinco dirigentes latinos alteraram as leis em busca de um novo mandato nos últimos anos BRASÍLIA . O caminho aberto para o terceiro mandato do presidente Álvaro Uribe é mais um episódio de uma febre recente na América Latina: a das alterações constitucionais para permitir que os dirigentes passem mais tempo no poder. O pioneiro na arte de mexer nas regras pela permanência no posto foi o presidente peruano de Alberto Fujimori, nos anos 90. O venezuelano Hugo Chávez, no cargo desde 1999, seguiu o caminho.

Em fevereiro deste ano, assistiu à aprovação, num referendo, da emenda constitucional que lhe permite a reeleição indefinida. Já o boliviano Evo Morales e o equatoriano Rafael Correa conseguiram mudar a Constituição para engatar outro mandato ainda durante a primeira gestão.

Em 13 das 18 democracias da região ¿ entre elas Brasil, Argentina, Bolívia, Colômbia, Chile, Equador, Nicarágua, Uruguai e Venezuela ¿ permitese mais de um mandato aos líderes. Mas as regras diferem: alguns países admitem mandatos consecutivos; em outros, como no Chile e no Uruguai, é preciso passar um tempo afastado do cargo, e em outros há a possibilidade da reeleição indefinida.

O nicaraguense Daniel Ortega aventou a proposta de sua reeleição em julho deste ano. Em Honduras, onde não se pode repetir o mandato em hipótese alguma, o golpe do último 28 de junho, que tirou Manuel Zelaya do poder, foi uma resposta contra a ideia de uma consulta popular para abrir caminho para a reeleição.

No Brasil, há cerca de um mês, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva classificou de estupidez a proposta de terceiro mandato, que acabara de ser rejeitada na Câmara. Mas mostrase complacente com a ambição dos vizinhos de se perpetuarem no poder.

E disse achar normal Chávez e Uribe quererem ¿mais do que dois mandatos¿.

¿ Valorizo muito a democracia, e aquela estupidez de terceiro mandato não só nunca passou pela minha cabeça, como fiz questão de pedir que meus companheiros do partido tirassem aquilo do debate. Dois mandatos já são demais para quem quer trabalhar com seriedade ¿ disse Lula.