Título: A Colômbia à espera de Uribe
Autor: Azevedo, Cristina
Fonte: O Globo, 03/09/2009, O Mundo, p. 32

Aprovação de referendo no Congresso congela candidaturas e deixa oposição sem rumo

Longe de definir o futuro da Colômbia, a aprovação do projeto de referendo que poderá permitir ao presidente Álvaro Uribe concorrer a um terceiro mandato lançou o país num novo capítulo de incertezas.

O resultado da votação da Câmara, que aprovou o projeto por 85 votos a favor e 5 contra (além de 76 abstenções), paralisou a campanha eleitoral, com a maioria dos seguidores do presidente congelando as próprias candidaturas para não prejudicar o processo de consulta popular. A oposição, por sua vez, tem dificuldades em traçar uma estratégia enquanto não souber quem enfrentará.

Foi uma sessão longa, com mais de 12 horas, com ingredientes que os colombianos poderiam facilmente comparar aos de uma novela: denúncias (de venda de votos), traições (na mudança deputados de partidos) e expectativa, afinal a bancada governista aprovou o projeto de lei com apenas um voto a mais do que o necessário.

Uma novela que ainda não acabou.

¿ O processo de referendo não foi concluído, e pode cair nas etapas seguintes.

O texto precisa ser analisado pela Corte Constitucional, receber o certificado da comissão eleitoral. E o presidente tem que obter os votos necessários (7,2 milhões) no referendo ¿ explica por telefone o analista político Francisco Miranda. ¿ Ele não vai se arriscar a uma derrota na Corte.

Por isso, vai esperar até o último momento, em 30 de novembro, para anunciar se é candidato ou não.

Data de referendo pode ser problema

Pouco depois da meia-noite (2h em Brasília), a bancada governista comemorava, com suas fileiras ampliadas, enquanto legendas contrárias à reeleição, como o Cambio Radical, amargavam divisões internas. Ontem, entre os opositores, havia quem acusasse o presidente de estar a caminho de se converter num ditador ou num ¿rei tropical¿. Uribe acabou sendo comparado ao presidente venezuelano, Hugo Chávez, no poder desde 1999 e com quem mantém frequentes rusgas.

E mesmo entre as pessoas que apoiam o presidente colombiano, muitos temem que uma segunda reeleição não seja uma boa ideia.

¿ Pode ser prejudicial à Colômbia.

Este é um país onde não prosperaram caudilhos nem ditadores porque se criou um sistema que impedia.

Um sistema com salvaguardas, projetado para mandatos de quatro anos. Já foi alterado uma vez, para dar a Uribe mais um mandato. Se ele ficar mais tempo, esses controles vão se deteriorando ¿ diz o analista político Juan Carlos Flórez.

O presidente nomeia pessoas para vários cargos, como para a presidência do Banco Central, que conviverão com o governante seguinte, explica Flórez. Quando o presidente é reeleito, esse equilíbrio é afetado, o poder presidencial é fortalecido sem que os contrapesos também sejam.

A corte tem três meses para revisar o texto do projeto do referendo, e a comissão eleitoral tem mais dois para organizar a consulta popular. Cumpridas essas etapas, os colombianos iriam às urnas em março de 2010 responder à pergunta: ¿Quem foi eleito para a Presidência da República por dois mandatos poderá ser eleito para outro período?¿ Opositores, no entanto, dizem que Uribe não pode se candidatar, por ter até 27 de fevereiro para se inscrever como candidato.

Nem o prazo, nem as denúncias parecem representar impedimento. Há quem já fale em realizar a consulta em janeiro. E poucos creem que as acusações de que o governo trocou cargos por votos tenham consequências.

Entre os uribistas, a ex-embaixadora em Londres Noemí Sanín foi a exceção.

Somente ela afirmou continuar em campanha pela Presidência. Para a oposição, restariam dois caminhos, na opinião de Miranda. Continuar alimentando a opinião pública com as denúncias de irregularidades ou unir-se, apesar de suas diferenças, para enfrentar Uribe ou seu herdeiro