Título: Em Recife, faltam até macas
Autor: Jungblut, Cristiane
Fonte: O Globo, 05/09/2009, O País, p. 3

Para associação, solução não é novo imposto, mas gestão eficiente

RECIFE. Se chegassem três pacientes em situação grave ao mesmo tempo na emergência do Hospital da Restauração, o maior do estado, haveria três macas à disposição na entrada de urgência.

No entanto, nenhuma delas estava limpa ontem, aumentando o risco de infecção. Uma estava toda suja de sangue. O GLOBO constatou, no entanto, que há macas novas armazenadas numa sala vizinha ao necrotério. A direção da unidade não explicou por que elas não estavam em operação.

Gercina Albuquerque Pessoa, de 54 anos, poderia estar viva, segundo sua família, se não fossem os problemas crônicos de maca e UTI em Recife. Ela esperou por mais de seis horas por uma transferência porque não conseguia ambulância com maca e, ao chegar no HR, em situação já muito grave, não teve acesso à UTI por falta de vaga.

De acordo com a presidente da Associação de Defesa de Usuários de Seguros, Planos e Sistemas de Saúde, Renê Patriota, ontem havia 26 pacientes esperando vaga em UTIs na capital.

¿ Mas infelizmente essas transferências nem sempre ocorrem, e muitos pacientes morrem. Não vi grandes mudanças no setor de saúde durante a vigência da CPMF e não acredito que um novo imposto vá beneficiar o usuário da rede pública de saúde, onde falta gestão eficiente ¿ disse ela.

Pacientes chegam ao hospital no chão das ambulâncias Renê denunciou ainda que cinco mil pessoas morreram nos últimos três anos por falta de unidades de terapia intensiva no estado.

Segundo ela, muitos pacientes são transportados no chão das ambulâncias por falta de macas.

Mas na maior emergência do estado, o Hospital da Restauração, há 19 leitos de UTI no sexto andar que não estão funcionando.

Embora negada pelo HR, a informação foi confirmada pelo vice-presidente do Sindicato dos Médicos, Sílvio Rodrigues. Ele disse que a unidade está equipada e será destinada a pacientes em situação de pós-operatório na área de neurocirurgia, mas que até ontem estava fechada.

A associação também citou o déficit de macas na entrada da emergência do Hospital da Restauração e afirmou que muitos pacientes chegam ao local deitados no chão das ambulâncias.

O HR negou que haja o problema.

Mas o médico, que é funcionário da unidade, disse que é muito comum observar-se ambulâncias sem maca no hospital. Até porque muitas delas ficam por tempos prolongados nos corredores com pacientes, já que a oferta de leitos é insuficiente para a demanda.

O problema da falta de macas e UTIs já rendeu até ação na Justiça, obrigando a rede privada a receber pacientes da rede pública que não tenham tido acesso a leitos de UTI