Título: Censura à cobertura na rede opõe parlamentares
Autor: Braga, Isabel
Fonte: O Globo, 05/09/2009, O País, p. 8

Gabeira é chamado de oportunista por Azeredo porque pregou desobediência à lei que ajudou a aprovar

BRASÍLIA. Incomodado com as críticas irônicas do deputado Fernando Gabeira (PVRJ) por causa do projeto de lei eleitoral que restringe a cober tura jornalística de campanhas eleitorais na internet, o senador Eduardo Azeredo (PSDB-MG), relator do projeto, lembrou ontem que a regulamentação do uso da rede nas campanhas foi aprovada pela Câmara e com o voto de Gabeira. E acusou de oportunismo o deputado verde, que pregou por meio do Twitter a desobediência civil às restrições: ¿ As críticas foram enviadas ao endereço errado. O Senado está tentando resolver essa questão criada na Câmara. Respeito o deputado Fernando Gabeira e sua história, mas lamento sua postura oportunista, pois ele ajudou a aprovar o texto ¿ disse Azeredo.

Gabeira respondeu que a votação do texto base da reforma eleitoral na Câmara foi simbólica e que não houve destaque a este ponto (uso da internet).

O deputado disse ainda que estava focado em outras questões, como evitar a volta dos outdoors nas campanhas eleitorais.

Ele afirmou ontem que tem uma história longa de defesa da liberdade na web e criticou Azeredo.

As reações do deputado e do senador foram publicadas durante todo o dia de ontem em diferentes páginas da rede, e Gabeira reforçou a polêmica usando mais uma vez o microblog.

¿ Tenho muitas frentes de luta, e travo a luta da maneira que eu acho mais adequada.

Chamar de oportunista não é adequado. Não é correto porque tenho uma campanha de luta na internet, ao passo que a trajetória do senador Azeredo é um pouco diferente. Ele tem procurado um maior nível de controle, e eu, de liberdade. São duas concepções distintas ¿ reagiu Gabeira.

¿Levei pancada de maneira indevida¿, diz Azeredo Azeredo insiste que a culpa sobre o texto da internet está sendo jogada de forma equivocada sobre ele. E enfatiza que entre as 110 emendas apresentadas pelos senadores nenhuma tratou do polêmico artigo 57-D, que trata das condições de uso da rede nas eleições.

¿ Levei pancada de maneira indevida. A alteração não foi introduzida no Senado. O próprio líder do meu partido (Arthur Virgílio) não fez emendas para corrigir isso ¿ reclamou Azeredo.

O senador Marco Maciel (DEM-PE), também relator do projeto, lamentou ontem o fato de o Congresso não fazer a reforma política. Ele afirmou que a reforma eleitoral tem mais pontos positivos do que negativos e defendeu rapidez na votação. Segundo Maciel, ele e Azeredo sempre defenderam a liberação do uso da internet na campanha eleitoral.

¿ Por ser algo extremamente novo e, portanto, sensível, essa questão despertou um grande debate. Não tenho dúvida de afirmar que nós vamos encontrar meios e modos de resolver essa questão, sobretudo porque, como já disse, o senador Eduardo Azeredo é um expert no assunto, e também porque há certo consenso estabelecido no Senado no sentido de que não se pode estabelecer limites, censuras à internet ¿ disse Marco Maciel.

O líder do PT no Senado, Aloizio Mercadante (SP), insistiu que é preciso retirar todo o artigo 57-D do texto da reforma para garantir a plena liberdade no uso da internet.

¿ O sentido histórico da internet é a liberdade. Não faz sentido restringir. Não vejo sentido e nem eficiência num mecanismo artificial de controle.

E estou propondo retirar a proibição à manifestação dos candidatos na internet nas 48 horas que antecedem a eleição ¿ disse Mercadante.

O senador tucano Álvaro Dias (PR) também apresentou emenda para acabar com a censura prévia à internet.

¿ A liberdade de opinião deve ser assegurada. O texto aprovado configura censura prévia e se constitui atraso imperdoável.

Precisamos de ampla participação da cidadania nesse novo meio de comunicação ¿ disse Dias, que vai tentar aprovar também a volta do uso de outdoors nas campanhas eleitorais

COLABOROU: Adriana Vasconcelos