Título: Na Amazônia, 17% da floresta destruídas
Autor: Alencastro, Catarina
Fonte: O Globo, 06/09/2009, O País, p. 3

Embora esteja em queda, desmatamento ainda é alto. Pesquisador critica MP da regularização fundiária

BRASÍLIA. Embora venha registrando um viés de queda, o desmatamento total da Amazônia já causou a destruição de 17% da floresta somente em sua parte brasileira. Este ano, o total desmatado deve ficar entre 8.500 km² e 9.000 km2, estima o Ministério do Meio Ambiente. Em um único mês, o de julho deste ano, o sistema de alerta Deter, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), indicou 836 km² de desmatamento na região. Deste total, 577 km² foram registrados no Pará e 124 km², em Mato Grosso. Os dois estados concentram a maior parte da derrubada da floresta.

Na semana passada, o governo comemorou que, com base nos dados do Deter registrados de agosto do ano passado a julho deste ano, foi o menor desmatamento desde 2004.

¿ Essa redução está baseada em taxas escandalosas de desmatamento na região. E não significa que estamos no caminho definitivo. A questão não é como preservar, cercar e tirar todo mundo lá de dentro, mas como viver em harmonia com a floresta ¿ avaliou Osvaldo Stella Martins, coordenador de pesquisa do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam).

Ele observa que a regularização fundiária, que começou a ser feita nos 43 municípios que concentram 55% do desmatamento na Amazônia Legal, em tese é um estímulo à redução do desmate, mas na prática isso não acontece. O problema, aponta, é a fragilidade da presença do Estado na região.

Para o diretor da ONG Preserve Amazônia, Marcos Mariani, a aprovação da Medida Provisória 458, que pretende regularizar 670.000 km² de terras da União ocupadas irregularmente, vai gerar mais destruição: ¿ Muitas pessoas que já tinham suas áreas abertas vão vender e partir para novas áreas ainda não desmatadas.

Foi um retrocesso.

Nos últimos registros do Inpe observouse uma mutação no perfil do desmatamento na região, que passou a ser mais descentralizado e feito em polígonos menores, o que dificulta o controle já precário. Esse novo perfil do crime ambiental está direcionando as ações de combate coordenadas pelo Ibama, em parceria com a Força Nacional. Desde o primeiro trimestre, as operações vêm utilizando equipes menores para dar mais mobilidade às ações.