Título: Tenho mais chance de passar Dilma
Autor: Camarotti, Gerson
Fonte: O Globo, 06/09/2009, O País, p. 11

Deputado acha difícil a transferência de votos de Lula para a ministra e diz que "ninguém aguenta" o PMDB

Sem esconder o constrangimento com a pressão do Palácio do Planalto para ser candidato ao governo de São Paulo, o deputado e ex-ministro Ciro Gomes (PSBCE) quer virar o jogo. Ele se diz um candidato potencialmente mais viável do que a chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff. E afirma que, apesar do esforço do presidente Lula, a transferência de votos para a ministra é complexa. ¿O que alguns petistas temem é fato: eu, hoje, tenho muito mais chance de passar a Dilma do que ela de manter a dianteira na minha frente¿. Ciro faz duras críticas ao que classifica de hegemonia na aliança PT-PMDB. Para Ciro, Dilma não aguenta uma campanha colada no PMDB. ¿Ninguém aguenta¿.

Gerson Camarotti BRASÍLIA

O GLOBO: Como avalia a disputa de 2010?

CIRO GOMES: Vejo uma disputa em que a ministra Dilma Rousseff será candidata pelo PT, em coligação com o PMDB; o PSB com minha candidatura; o PV apresenta a de Marina Silva; e tenho dúvidas sobre o PSDB, mas acho muito provável que o candidato seja Aécio Neves.

Será bastante difícil, com amplo favoritismo para Aécio.

E o cenário com o governador José Serra candidato?

CIRO: A probabilidade é uma convergência da Dilma comigo no segundo turno. Com isso, venceremos a eleição.

No Planalto há a preocupação de que sua candidatura prejudique a da ministra...

CIRO: Com todo o esforço do presidente e todas as qualidades da ministra, a transferência de influência eleitoral não tem reproduzido nas pesquisas a força extraordinária e merecida do presidente. O que alguns petistas temem é fato: eu, hoje, tenho muito mais chance de passar Dilma do que ela de manter a dianteira na minha frente

"Não planejo, não quero candidatura ao governo de SP"

Isso não poderia prejudicar um projeto de continuidade, como tem argumentado o presidente Lula?

CIRO: Nós do PSB temos uma clareza entre tantas nebulosidades: o projeto não será com o nosso movimento, seja com ação ou omissão nossa. Nós cumpriremos um papel que tem como premissa a garantia de que esse projeto que o presidente Lula iniciou vai daí para melhor, e não retroceder.

Percebe-se um claro constrangimento do senhor com essa proposta de transferência de título eleitoral para São Paulo, para que a base tenha a possibilidade de dois planos: uma candidatura ao Palácio dos Bandeirantes e outra ao Palácio do Planalto...

CIRO: É uma colisão entre minhas pretensões, meus objetivos e minha linha de conduta e os coletivos dos quais eu participo. Se você perguntar a mim, pessoalmente, eu não desejo, não planejo, não quero e não faria a transferência de domicílio eleitoral e nem a candidatura ao governo de São Paulo. Tenho muita clareza que a minha tarefa seria a de interpretar um projeto nacional de desenvolvimento no debate para a Presidência da República. Mas a minha vontade clara de não fazer hoje está constrangida pelo apelo respeitabilíssimo dos meus coletivos.

Como o senhor analisa a aliança PT e PMDB em torno da candidatura Dilma?

CIRO: Eu tenho um temor: é que, com a massa de contradições, a profundidade de contradições dessa coalização entre o PT e o PMDB, hoje, das quais esses episódios deploráveis do Senado são apenas uma caricatura ¿ de coisas não publicadas talvez muito mais graves ¿, só o presidente Lula aguenta, com a exuberância de sua liderança popular e sua interatividade instantânea com a massa popular brasileira.

O senhor acha que a candidatura Dilma não aguenta essa aliança com o PMDB?

CIRO: A Dilma não aguenta, eu não aguento, Serra não aguenta, Aécio não aguenta, ninguém aguenta...

Ninguém aguenta colar no PMDB?

CIRO: Não é no PMDB. É o tipo de hegemonia moral e intelectual que preside a atual relação do PT com o PMDB.