Título: Protesto contra Sarney é contido à força por seguranças na Esplanada
Autor: Carvalho, Jailton de; Weber, Demétrio
Fonte: O Globo, 08/09/2009, O País, p. 4

Por todo o país, dia foi de manifestações contra o presidente do Senado

BRASÍLIA, RIO e SÃO PAULO. O desfile do Sete de Setembro na Esplanada dos Ministérios terminou em confronto entre guardas e estudantes que protestavam contra o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP).

Seguranças da Presidência e policiais agrediram jovens que, após derrubar um alambrado, tentaram se aproximar do camarote onde estavam o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o presidente da França, Nicolas Sarkozy, e a ministra Dilma Rousseff, entre outros.

Manifestantes foram contidos com socos, gravatas e, segundo um deles, pontapés. O desfile começou com 25 minutos de atraso e teve público abaixo do esperado ¿ 30 mil pessoas, enquanto os organizadores esperavam pelo menos 50 mil. Pelos dados da Secretaria de Comunicação da Presidência, 4.450 militares e civis, inclusive franceses, participaram da festa.

A confusão começou quando cerca de 100 estudantes, com faixas e cartazes contra Sarney, derrubaram um dos alambrados para tentar se aproximar de Lula e Sarkozy. Seguranças e PMs que acompanhavam o protesto à distância foram para cima dos manifestantes. Vários foram agarrados e arrastados pelo gramado. A briga durou poucos minutos, mas deixou alguns estudantes assustados.

¿ A gente estava entrando num espaço público, e policiais e seguranças partiram para cima da gente. Deram empurrões, soco e golpe de cassetete no ombro ¿ queixou-se Raul Cardoso, estudante de ciência política e coordenador-geral do Diretório Central dos Estudantes da Universidade de Brasília.

O metalúrgico aposentado Célio Cândido Alves, de 64 anos, foi agarrado pelo pescoço e arrastado por um segurança de terno e gravata.

¿ Ele me deu uma gravata, apertou meu pescoço. Foi a maior violência que sofri na vida.

Por favor, me ajudem a identificar o segurança que me agrediu ¿ repetia Cândido Alves.

Depois disso, seguranças e policiais soltaram os manifestantes e recuaram para reforçar o cordão de isolamento.

Os estudantes levavam faixas e cartazes contra Sarney ¿ o presidente do Senado não foi ao desfile. E gritavam palavras de ordem como: ¿Sou brasileiro, sou patriota, mas eu não sou idiota¿; ¿Essa é de rir, o Senado já virou Sapucaí¿; ¿Sarney, ladrão, devolve o Maranhão¿.

No palanque, descontraídos, Lula e Sarkozy conversavam com o auxílio de intérpretes.

Apesar dos umidificadores e ventiladores instalados no camarote, Lula passou o desfile enxugando o suor do rosto.

Manifestações após desfiles do Rio e de São Paulo Em outras capitais, os desfiles militares do Sete de Setembro também foram marcados por manifestações contra o presidente do Senado. No Rio, o desfile foi acompanhado por cerca de 15 mil pessoas. Após a parada, manifestantes de diferentes entidades pediram ¿Fora, Sarney¿. Eles também gritavam palavras de ordem contra o governo federal, o governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB), e o prefeito Eduardo Paes (PMDB) ¿ que não foram ao desfile.

Cerca de 300 pessoas protestaram ontem à tarde na Avenida Paulista, em São Paulo, pedindo a saída de José Sarney da presidência do Senado. Parte dos manifestantes usava fantasia de palhaço e faixas com os dizeres ¿Fora, Sarney. Reforma política já¿. O trânsito chegou a ficar complicado na região, mas, segundo a Polícia Militar, não houve conflitos.

De manhã, depois do desfile de Sete de Setembro realizado no Sambódromo do Anhembi, um grupo com cerca de 500 pessoas fez outro protesto, desta vez cobrando a construção de mais casas populares. No carro de som, eram feitas críticas à política habitacional da prefeitura e do governo paulista.