Título: Meio ambiente acelera pré-sal
Autor: Paul, Gustavo; Tavares, Mônica
Fonte: O Globo, 08/09/2009, Economia, p. 15

Busca global por matriz energética mais limpa ditará ritmo de exploração

O ritmo da exploração das reservas do pré-sal, estimadas entre 50 bilhões e 80 bilhões de barris de petróleo, nas próximas décadas, será influenciado por fatores que não dependem da vontade do governo brasileiro: a demanda internacional, o nível de reservas existentes e a mudança da matriz energética, cada vez mais voltada para energia limpa. Aos poucos, o uso dos hidrocarbonetos (petróleo e gás) como energia está sendo questionado.

Por isso, o consumo de petróleo tende a ter uma queda ao longo das próximas décadas e, assim, a exploração do pré-sal teria que ser acelerada, alertam analistas.

¿ De maneira geral, a dúvida é se deve guardar o petróleo, porque os preços podem ficar mais altos; ou utilizar agora, porque as energias alternativas vão ganhar cada vez mais espaço ¿ diz o consultor Marco Tavares, da Gas Energy.

Mudanças na matriz energética são fatos históricos. A era do carvão, que pontificou no século XIX e foi determinante para o progresso de Inglaterra e Alemanha, foi destronada pelo petróleo a partir do início do século passado, que impulsionou os Estados Unidos. Tavares alerta para o destaque dado ao aspecto ambiental neste início do século XXI: ¿ A discussão sobre meio ambiente nunca esteve tão forte como agora

Em 50 anos, risco de perda de valor

O exemplo mais evidente dessa guinada foi anunciado em maio pelo governo dos Estados Unidos. O presidente americano Barack Obama lançou novos padrões de emissão de gases poluentes para veículos e metas de eficiência no consumo de combustível, para ajudar a livrar os EUA de sua dependência de petróleo. O presidente americano se referiu ao plano como uma virada histórica em direção a uma economia de energia limpa.

Para o consultor legislativo Paulo César Ribeiro Lima, ex-funcionário da Petrobras e especialista no setor, é preciso garantir que a exploração do pré-sal se concentre nos próximos 40 a 50 anos: ¿ É provável que daqui a 50 anos o petróleo perca valor, pois o planeta dá claros sinais do agravamento do efeito estufa.

Lima lembra que as montadoras de veículos estimam que, em 2025, 30% dos novos carros poderão ser elétricos.

Ele alerta que o governo tem de garantir a exploração até 2050, para assegurar que o pré-sal não se transforme em um reservatório sem valor: ¿ Corre-se o risco de grande parte do petróleo recuperável dessa província nunca ser produzido.

Para o governo, o horizonte não é tão dramático. A aposta é que pelo menos durante 35 anos, e isso a partir de 2015 quando os campos do pré-sal começam a produzir pelo sistema de partilha, o país retire e processe essas riquezas sem problemas.

¿ Até 2050 temos um bom cenário, porque os custos do pré-sal ficam abaixo de US$ 40 (o barril). Mesmo com as taxações por causa das restrições ambientais, ele ainda será viável economicamente ¿ afirma o presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Maurício Tolmasquim.

O ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, também é otimista: ¿ Em 40 anos, as reservas conhecidas devem estar esgotadas e o pré-sal surge como alternativa.

Segundo Tolmasquim, sem novas descobertas, os campos vão secar, levando a produção global em 2030 a 31 milhões de barris por dia. Como a maior demanda, o déficit será suprido com novos campos a serem descobertos, incluindo o pré-sal brasileiro.