Título: Crescer na crise
Autor: Alvarez, Regina
Fonte: O Globo, 09/09/2009, Economia, p. 18

O relatório do Fórum Econômico Mundial divulgado ontem mostra o Brasil muito melhor posicionado no ranking de competitividade. Deu um salto de oito posições no auge da crise global. A divulgação desses números reforça a percepção de que a performance do país na crise abriu uma janela de oportunidades para atração de investimentos. A grande interrogação é se essa janela será aproveitada ou perdida.

Na análise sobre o Brasil, o Fórum destaca a sustentabilidade fiscal e a abertura da economia, que criaram um ambiente favorável ao desenvolvimento do setor privado. O conceito da política econômica e do setor financeiro cresceu 13 posições no ranking de competitividade, em relação ao ano anterior. Mas o relatório também expõe nossas mazelas. Na nota negativa do ambiente institucional estão embutidos o mau uso do dinheiro público e a imagem dos políticos, uma das piores do mundo.

Na visão do professor Carlos Arruda, da Fundação Dom Cabral, que coordenou o estudo no Brasil, a janela para o país está aberta, mas para consolidar um ambiente que estimule, de fato, os investimentos, o país terá que resolver os gargalos na infraestrutura, na educação, no sistema regulatório. O governo precisa investir mais e melhor e dar sinais claros de que a estabilidade econômica não está ameaçada, com a redução dos gastos de custeio.

- A melhoria da capacidade competitiva está associada a intenções políticas. Os gargalos não são difíceis de resolver, se houver intenção de superá-los. Mas a eleição de 2010 pode ser um fator perturbador.

O ex-ministro da Fazenda Mailson da Nóbrega acredita que a melhora do Brasil no ranking da competitividade está diretamente relacionada à mudança, para melhor, na percepção do risco-país e não tem relação direta com mudanças estruturais. Aumentou a percepção de que o país tem instituições fortes, um banco central autônomo, um sistema financeiro sólido, mas a logística continua muito ruim, o sistema tributário piorou, as deficiências estruturais permanecem, destaca.

- O Brasil emerge da crise com uma avaliação de risco muito melhor, e isso não é pouca coisa, mas não devemos ter ilusão de que essa competitividade está relacionada com redução de custos sistêmicos.

O economista Antônio Corrêa de Lacerda, professor da PUC/SP e consultor da Sobeet, enxerga as carências na infraestrutura como uma oportunidade para ampliar os investimentos, mas também destaca os problemas que ameaçam essa janela de oportunidades: o marco regulatório instável, o papel das agências reguladoras confuso e a ingerência política trazem desconfiança.

- Precisamos de um marco regulatório mais amigável e estável. Ele evoluiu, mas ainda tem muitas incertezas - avalia.

Lacerda lembra que o Brasil é um dos poucos países que tributa investimentos, a burocracia é imensa na abertura de empresas, no licenciamento de projetos. A questão ambiental é mal resolvida, com conflitos entre os entes da federação e demora na tomada de decisões. E o câmbio, na sua avaliação, representa, no momento, um grande entrave à competitividade e ao investimento.