Título: Protestos dentro e fora do Supremo
Autor: Brígido, Carolina; Alencastro, Catarina
Fonte: O Globo, 10/09/2009, O País, p. 3

Manifestantes entram no plenário do STF, mas são retirados por seguranças

BRASÍLIA. Um grupo de 18 cearenses fez ontem um protesto no Supremo Tribunal Federal (STF) em defesa do ex-ativista italiano Cesare Battisti. Antes mesmo do início do julgamento que decidiria o futuro de Battisti, dez desses manifestantes entraram no plenário para entoar palavras de ordem e segurar faixas - algo raro na rotina da Corte. Eles gritavam "Liberdade para Cesare Battisti" e "Abaixo a repressão". Uma das faixas dizia: "STF, extraditar Cesare é modernizar a inquisição". Como não é permitido esse tipo de manifestação no local, o presidente do tribunal, ministro Gilmar Mendes, ordenou que os seguranças os retirassem. O protesto continuou do lado de fora.

- Ele corre risco de vida, se for extraditado. Todo o processo dele foi manipulado. Querem levar o Cesare como um troféu, num momento que o Berlusconi (o premier da Itália, Silvio Berlusconi) está sem moral nenhuma - afirmou a professora paulista Regina Célia Zanetti.

Regina, que afirmou ter sido perseguida pela ditadura militar no Brasil, considera que a situação de Battisti é parecida com a dela e, por isso, resolveu apoiar o italiano. A socióloga Rosa Fonseca, que também protestava, disse que foi presa pela ditadura e também se identificou com Battisti.

- Cesare estava na mesma luta que tantos jovens que lutaram no Brasil na guerrilha do Araguaia e contra a ditadura. Naquela época, ele era mais novo que eu, eu também fui presa e perseguida. Este nosso protesto não é só pela liberdade de Cesare, é também pelo esclarecimento das mortes e desaparecimentos da ditadura, pela abertura dos arquivos daquela época e pela responsabilização dos torturadores - afirmou Rosa.

O grupo estava acampado em frente ao STF desde terça-feira, mas foi impedido pela polícia de passar a noite no local. Dormiram no gabinete do senador Eduardo Suplicy (PT-SP), que assistiu ao julgamento no plenário do tribunal. Também estavam presentes o senador José Nery (PA), o deputado Ivan Valente (SP) e o deputado Chico Alencar (RJ), todos do PSOL, em defesa de Battisti. Para apoiar o governo italiano, foi ao julgamento o deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ).

No intervalo da sessão, Nery e Bolsonaro bateram boca em frente às câmeras de televisão. A discussão aconteceu depois que Nery concedeu uma entrevista em que recomendava ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva o veto à decisão da Corte, caso a opção fosse pela extradição do italiano.

- Se o presidente Lula se submeter à incondicionalidade do voto do Supremo, é melhor rasgar a Constituição federal. Creio que uma decisão que não respeita o ordenamento jurídico tem que ser contraposta - disse Nery.

Bolsonaro retrucou de forma veemente:

- Vossa Excelência está desafiando o Supremo, pregando uma desobediência civil. Vossa Excelência envergonha o país ao defender um criminoso comum que matou um açougueiro e um joalheiro. Cartão vermelho para o senhor!

- Esse açougueiro e esse joalheiro eram militantes fascistas - rebateu Nery, antes de se retirar da Corte. (Catarina Alencastro e Carolina Brígido)