Título: Aproximação com Cuba
Autor: Fleck, Isabel
Fonte: Correio Braziliense, 12/04/2009, Mundo, p. 18

O silêncio que cercou a visita do novo ministro das Relações cubano, Bruno Rodríguez, ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na última quarta-feira, diz muito sobre a importância das conversas mantidas, a poucos dias da 5ª Cúpula das Américas. Na manhã do encontro, confirmado na noite anterior pelo Planalto, a notícia ainda apanhou de surpresa diplomatas de ambos os países.

A imprensa cubana sequer noticiou a visita, embora assessores de ambos os lados tenham comentado, extraoficialmente, que se trataria de uma espécie de gesto de cortesia da parte cubana, para ¿quebrar o gelo¿. Mais reservadamente, fontes diplomáticas admitem que o Brasil, a despeito de recusar de público qualquer tipo de mediação, apresenta-se como candidato a fiador de uma cautelosa aproximação entre Havana e Washington.

Nas semanas que antecederam a visita-surpresa, Brasília e Havana (nessa ordem) receberam outra figura-chave na preparação da Cúpula das Américas: o anfitrião, Patrick Manning, primeiro-ministro de Trinidad e Tobago. Por aqui, Manning reafirmou que a exclusão de Cuba do sistema interamericano, por determinação dos Estados Unidos, será um dos temas centrais da cúpula. No encontro que teve com Raúl Castro, o premiê caribenho convidou-o a visitar seu país ¿quando achar conveniente¿ ¿ no início de março, chegou a ser ventilada em meios diplomáticos a possibilidade de que Rául viesse a ser convidado para o próprio encontro, do qual Cuba nunca participou.

A ideia acabou arquivada, entre outros fatores, por sinais captados ainda na semana passada. Em meio ao vaivém diplomático no eixo Caribe-Planalto ¿ sem falar na coincidência com a visita de missões do Congresso americano a Brasília e Havana ¿, circularam versões segundo as quais o próprio Raúl estaria receoso de que a insistência dos latino-americanos em reintegrar Cuba produzisse o efeito contrário, alimentando nos EUA as pressões do lobby cubano anticastrista e constrangendo o governo de Barack Obama em suas manobras iniciais para distender as relações com a ilha.