Título: Senado gastou R$70 mil com curso para Ideli
Autor: Lima, Maria
Fonte: O Globo, 10/09/2009, O País, p. 11

Assessor também foi beneficiado

BRASÍLIA. Não é só dureza a vida da chamada "pitbull do governo no Senado", a líder Ideli Salvatti (PT-SC), que não se importa com o desgaste quando entra numa briga - mesmo que seja para salvar Renan Calheiros (PMDB-AL) ou José Sarney (PMDB-AP), acusados de má gestão na direção da Casa. Em 2007, por exemplo, ela teve autorização do então presidente Renan para viajar, acompanhada do assessor Paulo André Argenta, para México, Espanha e Argentina. Com um custo total estimado em cerca de R$70 mil, pago pelo Senado, o objetivo da viagem foi participar de um curso de gestão dirigido a altos executivos de grandes corporações mundiais.

Em abril de 2007, Adriana Monsale, executiva da Newfield Consulting, com sede na Flórida, enviou ao então presidente Renan Calheiros "convite" para que ele designasse, em caráter oficial, um representante do Senado para participar do curso "The art of business coaching". O texto é confuso, porque o cabeçalho diz que não haveria custos "para a entidade".

A parte final do convite, entretanto, diz que o curso teria duração de nove meses, com três conferências gerais, de quatro dias, realizadas em abril de 2007 no México, em setembro em Buenos Aires, e em janeiro de 2008 na Espanha, com custo total de U$6.400.

A notícia, publicada ontem pelo jornal "Folha de S. Paulo", deixou senadores intrigados: qual a serventia dos ensinamentos adquiridos por Ideli e Argenta no curso "The Art of Business Coaching" para seu mandato e para o Senado? Curiosamente, o curso foi oferecido pela empresa americana Newfield Consulting, com filial no Brasil e fundada pelo ex-assessor do Palácio do Planalto e da CUT Luiz Sérgio Gomes da Silva, conterrâneo petista de Ideli.

Para Ideli e o assessor, só com as inscrições o Senado gastou R$24 mil (U$6.400, que seriam para os nove meses), além de outros R$11.837 em diárias e cerca de R$7.500 correspondentes a passagens da cota da senadora. Paulo Argenta ainda participou, sozinho, de outras etapas do curso em São Paulo, Buenos Aires e Florianópolis, pelas quais recebeu R$15.208 de diárias.

Ideli, que permaneceu ontem em Santa Catarina, só se manifestou por meio de nota e de sua assessoria. Na nota, diz que tudo foi autorizado e auditado pelo Senado: "A senadora considera que, com a participação no curso, houve melhora no desempenho de sua equipe em relação ao trabalho do mandato", afirma, concluindo que "através dos conhecimentos adquiridos no curso, (o assessor) é um disseminador das informações apreendidas".

- Isso não é curso, é turismo - reagiu Álvaro Dias (PSDB-PR).

- Esse é o tipo de desperdício que o Senado tem que evitar - completou Demóstenes Torres (DEM-GO).

A assessoria de Ideli diz que ela conhece Luis Sérgio, representante da Newfield Consulting no Brasil, do PT e de quando ele assessorava os ministros Tarso Genro e Jaques Wagner no Planalto, mas nega que ele esteja por trás do convite.