Título: Pré-sal: Noruega ou Indonésia?
Autor: Batista, Henrique Gomes
Fonte: O Globo, 10/09/2009, Economia, p. 29

Países desenvolveram indústria de modos diferentes. Estudo mostra desafio para o Brasil

Mesmo tendo a descoberta do pré-sal como chamariz, não será fácil ao Brasil desenvolver uma grande cadeia produtiva do petróleo. Estudo encomendado pelo BNDES à consultoria americana Bain & Company indica que o país está em uma encruzilhada: ou desenvolve uma indústria relevante baseada em pesquisa e desenvolvimento, como faz a Noruega, ou explora os recursos mas não incrementa seu parque produtivo, como a Indonésia.

Os dois países descobriram grandes reservas de óleo, mas se desenvolveram de forma diferente. Se seguir o caminho correto, acredita Pedro Cordeiro, sócio da Bain, o peso do petróleo no Produto Interno Bruto (PIB, soma de bens e serviços produzidos no país) brasileiro, atualmente na casa dos 10%, pode dobrar:

- O petróleo é negócio de alta tecnologia.

Mesmo exigindo conteúdo nacional, a Indonésia não desenvolveu tecnologia local - os equipamentos até eram fabricados no país, mas com patentes estrangeiras. Sem pesquisas e com campos envelhecidos, o país passou a importar petróleo em 2005 e teve que deixar a Opep, associação dos países exportadores do produto, em 2008.

"A Indonésia partiu de uma base muito frágil tanto educacional quanto econômica", afirmou o estudo, que também cita como problemas leis confusas e uso da estatal do país, a Pertamina, como instrumento de corrupção.

"Precisamos de um ITA para o petróleo"

O governo da Noruega, ao contrário, sempre incentivou a pesquisa e a formação de mão de obra. Foi criada uma universidade do petróleo e há hoje 255 PHDs estudando o tema no país.

"Entre 1995 e 2005, as vendas internacionais de serviços dos fornecedores noruegueses cresceram 25% ao ano", afirma o estudo. Ou seja, a tecnologia compensou a redução da produção, baseada em campos maduros.

Cordeiro acredita que esse é o grande calcanhar de aquiles na proposta brasileira: a falta de prioridade para educação e pesquisa.

- A Embraer não existiria sem o ITA (Instituto Tecnológico Aeroespacial). Precisamos de um ITA do petróleo - diz.

Para ele, o modelo do negócio - partilha ou concessão - não interfere na cadeia do petróleo, desde que seja bem conduzido:

- Se a Petrobras for mantida como única operadora do pré-sal, será necessário criar concorrência entre seus fornecedores e espaço para novas empresas brasileiras. Fica mais difícil com este modelo, mas não impossível.

O estudo aponta outro risco: "Argumentar por conteúdo local excessivo num primeiro momento ou criar mecanismos artificiais para assegurar que somente os brasileiros possam realizar certas funções, mesmo sem pessoas com essas capacidades, resultará, no melhor dos casos, numa indústria ineficiente", conclui.