Título: Consumo e serviços ainda vão puxar crescimento da economia no 2º tri
Autor: Almeida, Cássia
Fonte: O Globo, 10/09/2009, Economia, p. 30

Economistas já veem reação da indústria e das exportações no PIB

RIO e BRASÍLIA. O IBGE deve anunciar amanhã que a economia brasileira cresceu de 1,6% a 2% de abril a junho, segundo projeções de economistas e do governo. Depois da recessão técnica que o país viveu desde o agravamento da crise financeira mundial, com a economia em retração entre outubro de 2008 e março deste ano, o Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos pelo país) saiu do fundo do poço no trimestre passado. Mas, segundo estimativas, numa reação insuficiente para evitar que a economia fique estagnada este ano. As projeções são de que o PIB varie entre -0,2% e 1% em 2009.

No segundo trimestre, o consumo das famílias e o setor de serviços devem ter puxado a economia, papel que já desempenharam de janeiro a março, quando impediram um tombo maior do PIB.

- Pelo lado da demanda, já veremos alguma recuperação das exportações. Os números devem surpreender. Estamos prevendo alta de 15% frente ao primeiro trimestre, quando as vendas externas caíram 16% - disse Elson Teles, economista-chefe da Corretora Concórdia.

E a indústria, que ainda não deve se recuperar este ano, também deve aparecer com sinal positivo amanhã. Teles, mais conservador, espera alta de 1,3%. Já o Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos do Bradesco acredita em alta de 3,9% frente ao início do ano.

Equipe da Fazenda menos otimista que Mantega

Para o economista-chefe da Convenção Corretora, Fernando Montero, no segundo trimestre a economia já deve ter reduzido bem os estoques, o que indica a indústria produzindo mais:

- Já houve queda dos estoques no primeiro trimestre. Esperamos que esse recuo seja bem maior no segundo. O resto do mundo está crescendo formando estoques. No Brasil, há expansão com desova de estoques. Enquanto lá fora o mercado interno é o problema, no Brasil é a solução.

Esse movimento deve fazer a indústria acelerar o ritmo. Com menos estoques para repassar ao comércio, a indústria precisará produzir mais para atender à demanda. E isso já está aparecendo. Em julho, o setor cresceu 2,2%. No primeiro semestre, a média ficara em 1,3%:

- Mesmo assim, a indústria só em 2011 voltará a ter o peso que tinha na economia antes da crise - diz Monteiro.

E a queda das importações vai ajudar a melhorar os números do PIB no segundo trimestre. O saldo externo fará o PIB crescer 1,4% contra o mesmo período do ano passado, segundo Montero.

Para Francisco Faria, economista da LCA Consultores, o país deve voltar ao nível de antes da crise já no terceiro trimestre.

Um crescimento mais disseminado é o que espera o Bradesco, mesmo reconhecendo que o setor de serviços vai ser o grande impulso. Essa difusão não alcançará os investimentos. A queda é esperada pela maioria dos analistas, perto de 1%, completando três trimestres seguidos de redução.

No governo, há divergência nas previsões. Embora o ministro da Fazenda, Guido Mantega, tenha afirmado que o PIB cresceu entre 1,8% e 2% no segundo trimestre frente a janeiro a março, a projeção da equipe técnica da pasta é de 1,6%. Essa estimativa tem como base o acompanhamento setorial que o governo passou a fazer, minuciosamente, com o agravamento da crise em setembro do ano passado.

A equipe econômica considera indicadores da indústria (produção e emprego); da construção civil; de vendas co comércio (varejo e atacado); vendas de automóveis e comportamento do mercado formal de trabalho.

Segundo técnicos da Fazenda, a avaliação é que as ações surtiram o efeito desejado e medidas adicionais, como a desoneração da folha de pagamento, por exemplo, não poderão sair do papel, enquanto não houver melhora significativa na arrecadação federal.

COLABOROU Geralda Doca