Título: Mudou de tom
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Fonte: O Globo, 11/09/2009, O País, p. 4

O presidente Lula, que é um político muito hábil e sabe para que lado o vento sopra, já começou a corrigir o rumo de sua estratégia eleitoral, admitindo implicitamente que a corrida presidencial não tem mais chance de ser travada apenas entre a candidata petista, Dilma Rousseff, e o representante tucano, provavelmente o governador de São Paulo, José Serra. Mas ele continua querendo que a eleição seja um plebiscito sobre o seu governo, e agora diz que ¿um candidato da base aliada¿ será eleito, e cita, além de Dilma, o deputado federal Ciro Gomes, que sairia pelo PSB, e a senadora Marina Silva, que disputaria pelo Partido Verde.

Além do fato de que os eventuais votos em Marina não podem ser contabilizados diretamente para o governo, agora o presidente já parece conformado com a tese do PSB de que ter mais de um candidato da base é a melhor estratégia.

Mesmo porque a ministra Dilma aparece nas pesquisas de opinião estacionada, na melhor das hipóteses, ou mesmo em queda, como na consulta do Sensus para o CNT esta semana, em que ela caiu de 23,5% para 19%.

A pesquisa nacional do Ibope divulgada pela coluna de Ancelmo Gois no GLOBO, que mostra Serra com 42%, Ciro com 14%, Dilma com 13% (caindo 5 pontos), Heloísa Helena com 7% e Marina Silva com 3%, foi encomendada pelo PMDB, e há indicações de que o partido já se mostra sensível à tese de que deveria ter um candidato próprio no primeiro turno, diante da performance nada animadora de Dilma.

Uma visão mais otimista com relação à candidatura da ministra Dilma Rousseff, como a do marqueteiro e publicitário Hayle Gadelha, vai buscar os números de março passado para mostrar que quem está em queda é o governador Serra, que naquela ocasião chegou a marcar 45,7%, enquanto Dilma tinha 16,3%.

Na pesquisa Sensus, Serra caiu para 40,4%, e Dilma subiu para 23,5%. A queda de setembro de Dilma, para 19%, a colocaria no mesmo patamar de março, dentro da margem de erro, enquanto Serra manteve-se na faixa dos 40%, caindo quase 6 pontos percentuais em relação à marca de março.

Como com as estatísticas pode-se fazer qualquer malabarismo, o melhor é se ater à tendência, que mostra uma sólida diferença a favor de Serra. A disputa parece mesmo estar dentro da base aliada do governo, onde Ciro Gomes volta a ser um plano B com mais chances de disputar o segundo turno com o candidato do PSDB.

Tudo indica que, com a candidatura da senadora Marina Silva, a possibilidade de a eleição ser decidida no primeiro turno ficou menor, embora até o momento o governador José Serra vença no primeiro turno em todas as simulações e em todos os institutos.

E há ainda a candidatura de Heloísa Helena pelo PSOL, que aparece nas pesquisas com índices que variam de 7% a 10%, e com picos próximos de 15% em alguns cenários, o dobro do que consegue a senadora Marina Silva.

Sua candidatura ainda não deve ser descartada, embora seja forte a possibilidade de que ela venha a ser candidata ao Senado.

Segundo o ex-deputado Milton Temer, dirigente do PSOL, o raciocínio de quem quer Heloísa Helena como candidata a presidente da República parte de duas preliminares: ¿Não aceitamos abrir mão de uma disputa polarizada entre o seis e o meia dúzia, dando à candidatura patrocinada por Lula uma falsa imagem de `esquerda possível¿.

A esquerda estratégica, aquela que não abre mão do que sempre defendeu no combate ao neoliberalismo, não se veria representada¿.

Além do mais, questiona, quem garante ser inevitável a vitória de Heloísa Helena numa eleição para o Senado em Alagoas, estado de Collor e Renan Calheiros , onde ¿de sapatão a prostituta, valeu tudo nas manchetes de jornal e noticiário de rádio e TV, que ambos controlam, para tentar impedir a brilhante eleição que ela conquistou como vereadora, proporcionalmente, mais votada do Brasil¿.

Milton Temer admite que existe uma ¿baita pressão local¿ para mudar a representação do estado no Senado, mas diz que a parada não está decidida. Hoje há uma reunião em Maceió, mas a decisão final deve sair apenas no final do ano.

Quanto à possibilidade de uma aliança com o PV da senadora Marina Silva, amiga de Heloísa Helena, por enquanto é a alternativa mais difícil. Temer faz parte do grupo que considera a hipótese inviável e garante que Marina ¿não vai comover o partido para uma aliança em torno do `ecocapitalismo generoso¿ que defende¿.

¿Por que entregar 54 segundos de horário de TV para uma campanha onde praticamente nada haverá de referencial em relação aos objetivos táticos e estratégicos do PSOL?¿, pergunta Temer.

Já o deputado federal Chico Alencar não é tão definitivo, embora já tenha dito que o PV era legenda de aluguel.

Alencar acha difícil, no entanto, que o PV faça uma reformulação tão profunda em seus quadros que venha a permitir uma aliança política com o PSOL. De qualquer maneira, o partido tende a ter uma candidatura própria à Presidência, para marcar posição.

A versão do ex-ministro Roberto Amaral sobre os fatos narrados na coluna de ontem não difere fundamentalmente da que apresentei, mas acrescenta novos detalhes a seu favor. Ele diz que a demissão do major-brigadeiro Antonio Hugo Pereira Chaves foi pedida pelo presidente da Agência Espacial Brasileira, Carlos Ganem, logo após o incidente, ¿pois, antes de mim, na reunião citada, fora ele desrespeitado pelo seu hoje ex-auxiliar¿.

Para Amaral, a versão publicada na coluna ¿é fantasiosa¿.

Segundo ele, ¿o ex-diretor foi grosseiro com o diretor-geral da parte ucraniana, O. Serdyuk, e com o vice-diretor técnico brasileiro, João Ribeiro Jr.

Cumpri o dever de defendêlos e daí resultou o incidente, muito medíocre, sem os lances rocambolescos (à maneira dos westerns italianos) que lhe descreveram¿.