Título: Quizumba no Senado
Autor: Colon, Leandro; Rocha, Marcelo
Fonte: Correio Braziliense, 04/04/2009, Política, p. 2

A crise parece não ter fim. Desta vez foi o senador Arthur Virgílio que atacou o diretor-geral da Casa, acusando-o de ser o braço de Agaciel Maia. REAÇÃO ¿Se estão trocando as peças para não mudar, para no fundo manter pessoas que recebam ordens de Agaciel Maia, vou dizer ao presidente que vai continuar a roubalheira¿ Senador Arthur Virgílio (AM), líder do PSDB OSenado está cada vez mais sem rumo. Da tribuna, o líder do PSDB, Arthur Virgílio (AM), disparou ontem ataques ao diretor-geral, José Alexandre Gazineo. Do outro lado da rua, a poderosa Secretaria de Telecomunicações não tem comando. Carlos Muniz, o Carlinhos, limpou as gavetas, despediu-se dos colegas e abandonou a diretoria do órgão antes mesmo de sair sua exoneração por causa de um dossiê com gastos de telefonia dos senadores. ¿Ele começou a adotar posturas esquisitas, fez uma reunião e foi embora. Deixou a secretaria acéfala¿, reclama Gazineo.

Esquisito, porém, foi um outro episódio. Após criticar Gazineo e vinculá-lo ao ex-diretor-geral Agaciel Maia, Arthur Virgílio saiu do plenário e dirigiu-se ao terceiro andar, onde fica a Diretoria-Geral. Antes, destilou uma provocação. ¿Eu estou aqui há sete anos e não sei onde fica. Vou perguntar onde fica e vou lá agora perguntar ao dr. Gazineo se ele é um fantoche¿, afirmou.

A quizumba começou depois da informação de que Agaciel teria ordenado a Gazineo, na quinta-feira, a demissão de cinco diretores que teriam sido nomeados a pedido do senador. ¿Vou inclusive pedir que ele discrimine os cinco, o dr. Gazineo, com peruca ou sem peruca, mas que diga os cinco, quais são¿, disse. ¿Se estão trocando as peças para não mudar, para no fundo manter pessoas que recebam ordens de Agaciel Maia, vou dizer ao presidente que vai continuar a roubalheira no Senado.¿ Em nota, Gazineo desmentiu o contato com Agaciel. ¿O ex-diretor não mantém contato com o atual diretor, nem tem qualquer influência na atual gestão administrativa da Casa¿, afirmou. Arthur Virgílio chegou a falar em investigação parlamentar sobre a gestão do ex-diretor-geral. ¿Eu chegaria ao ponto, que seria o extremo, de pedir a instalação de uma comissão parlamentar de inquérito.¿

Dossiê Já Carlos Muniz, o Carlinhos, perdeu a diretoria da Secretaria de Telecomunicações na quinta-feira, dois dias depois de apresentar ao primeiro-secretário, Heráclito Fortes (DEM-PI), um dossiê com dados de telefones celulares usados pelos senadores. O documento conteria uma relação nominal de todos os parlamentares e eventuais gastos e problemas relacionados.

O material foi apresentado numa rápida reunião do servidor com o senador na terça-feira. Heráclito não gostou do que viu e decidiu trocar o comando da poderosa secretaria. O estilo de Carlinhos e os dados referentes à telefonia irritaram Heráclito. ¿O senador demonstrou desagrado à conduta dele. Não existia mais clima¿, disse Gazineo. O braço-direito de Carlinhos no órgão, Ricardo Macedo, também deve sair.

Carlos Muniz era homem de confiança de Agaciel Maia. Hoje, essa secretaria cuida de contratos milionários com empresas do setor. No total, R$ 18 milhões foram gastos no ano passado com serviços de telecomunicações. Em 2008, a telefonia do Senado esteve sob suspeita em meio à crise do grampo telefônico envolvendo o senador Demostenes Torres (DEM-GO) e o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes. Uma varredura foi feita no sistema interno para saber se a escuta ilegal partiu da Casa legislativa. Nada teria sido encontrado.