Título: Aeronáutica adiará relatório técnico
Autor: Lins, Letícia
Fonte: O Globo, 12/09/2009, O País, p. 3

Empresas da França, da Suécia e dos EUA têm até dia 21 para apresentar novas propostas

BRASÍLIA. Com a decisão do presidente Lula de abrir negociações preferenciais com o governo francês para compra de 36 caças, o Comando da Aeronáutica deverá atrasar em pelo menos um mês a entrega do relatório técnico sobre as propostas da empresa francesa Dassault e das demais concorrentes para a venda do avião ao Brasil: a americana Boeing e a sueca Saab. Em nota divulgada ontem, a Aeronáutica informa que as três empresas têm até o próximo dia 21 para apresentar formalmente novas propostas à chamada Comissão Geral do Projeto F-X2, da FAB.

Antes do encontro de Lula com o presidente da França, Nicolas Sarkozy, o plano da Aeronáutica era de apresentar o relatório, inclusive com o ranking técnico das propostas, até o fim deste mês. Mas o prazo foi prorrogado: ¿A expectativa da FAB é concluir o processo de análise técnica até o fim de outubro, para que as informações sejam entregues ao ministro da Defesa, que as conduzirá ao presidente da República. Ao presidente caberá fazer a análise política e estratégica e tomar a decisão final¿, diz o texto divulgado ontem, a pedido do comandante da Força, Juniti Saito, e do ministro da Defesa, Nelson Jobim.

A partir do relatório, Lula decidirá se mantém a preferência pela compra dos caças Rafale, da Dassault. No encontro de segunda, Sarkozy prometeu redução de preços e transferência irrestrita de tecnologia. O governo considera que a proposta dificilmente será superada, mas teve que abrir prazo para que as outras empresas também façam novas ofertas. Caso contrário, poderia comprometer a lisura do processo. A Boeing e a Saab acham que ainda têm chances.

As duas empresas prometeram refazer as ofertas originais. Ontem, em resposta a Jobim, a embaixada dos Estados Unidos avançou um pouco mais ao informar que o governo americano autorizou a transferência irrestrita de tecnologia do F-18, caça da Boeing. Os EUA permitirão até a fabricação do avião no Brasil. Os dois itens não estavam explicitados na oferta original. Executivos da Boeing viajarão dos EUA para São Paulo, terça-feira, para reafirmar que a proposta da empresa é melhor que a da Dassault.

¿Nós temos a melhor proposta. Nós oferecemos tecnologia avançada, de baixo risco, suporte logístico superior e preços consideravelmente mais baixos que o Rafale. Nós também oferecemos a coprodução do Super Hornet no Brasil com transferência total de tecnologia¿, disse a Boeing em nota, ontem. A empresa sustenta que pode melhorar ainda mais sua oferta se a concorrência permanecer aberta.

O processo de escolha dos caças já tem 26 mil páginas. A comissão de licitação está analisando cinco itens: transferência de tecnologia, domínio do sistema de armas pelo Brasil, acordos de compensação, participação da indústria nacional na produção e absorção dos novos conhecimentos.

¿Os participantes do Projeto F-X2 serão avaliados por critério de pontuação, conforme os quesitos elaborados, como, por exemplo, o nível de transferência tecnológica oferecido¿, diz a nota da FAB. O documento será enviado a Lula.

No início da semana, surgiram rumores de que o Rafale, o preferido do governo até o momento, teria ficado em terceiro lugar no ranking técnico.

Mas a Aeronáutica disse que não pode confirmar a informação até a conclusão do relatório. Na nota, a FAB defende a transferência de tecnologia como fator decisivo nos processos de compra, e cita como exemplo o acordo feito com a Itália nos anos 80 para a produção dos caças AMX: ¿O resultado da parceria com os italianos, além do desenvolvimento de um caça tático de ataque estratégico, empregado inclusive em combate (Kosovo), foi a capacitação da indústria brasileira.

A linha de jatos 145 e 190 da Embraer decorre da tecnologia absorvida nesse períod