Título: Caças: Lula diz que só ele decide
Autor: Lins, Letícia
Fonte: O Globo, 12/09/2009, O País, p. 3

Apesar de FAB preparar relatório, presidente diz ainda que resolverá "quando quiser"

Depois de ter manifestado clara preferência pelos Rafale franceses durante encontro com o presidente Nicolas Sarkozy no 7 de Setembro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem que a decisão sobre a compra dos 36 caças para a Força Aérea Brasileira (FAB) é somente dele. Lula reconheceu que a FAB tem o conhecimento técnico para fazer a avaliação entre os três modelos em oferta ¿ o Rafale francês, o F-18 americano e o Saab Gripen sueco ¿, mas disse que a decisão é política e estratégica e exclusiva do presidente.

¿ Fico vendo a imprensa e fico, às vezes, achando engraçadas as coisas como são colocadas: quem vai escolher, se é fulano, se é beltrano.

Ora: a FAB tem o conhecimento tecnológico para fazer a avaliação, ela tem e vai fazer, e preciso que faça. Agora, a decisão é política e estratégica, e essa é do presidente da República e de ninguém mais ¿ disse , durante visita a Ipojuca, em Pernambuco.

¿ Por enquanto, nós estamos na fase dos palpites. Quem quiser dar palpite, que dê. Vocês podem dar palpite, outras pessoas podem dar palpite. Mas vai ter um dia em que a criança vai ter que nascer, e aí... Por enquanto, é isso que nós temos. E temos muito tempo para discutir, porque não tenho obrigação de decidir amanhã, depois de amanhã, no ano que vem. Eu decido quando eu quiser, é isso.

Durante a visita de Sarkozy ao Brasil, Lula anunciou ter aberto negociação para a compra de 36 caças Rafale da empresa francesa Dassault, embora o processo de escolha, conduzido pela FAB, ainda esteja em andamento: ¿ Uma coisa está clara ¿ disse ontem Lula.

¿ Queremos transferência de tecnologia e queremos construir esses aviões no Brasil. O presidente Sarkozy, até agora, foi o único que disse textualmente para mim que quer transferir não apenas a tecnologia para o Brasil, mas quer fazer o avião aqui, para que o Brasil tenha disponibilidade de vender para toda a América Latina.

Isso é a única coisa concreta que tenho.

Sem se referir diretamente à informação do governo dos Estados Unidos de que também está disposto a transferir tecnologia dos caças para o Brasil, Lula comentou: ¿ Se alguém quiser ofertar, que oferte. Estamos conversando mais. Negociação é assim.

O presidente deixou clara sua preferência pelo caça francês, embora admita que as negociações não estão encerradas e vão se estender à empresa fabricante do Rafale: ¿ Estamos estudando tudo, porque é muito dinheiro em jogo. O Sarkozy ofereceu possibilidades.

Vamos ver agora com a indústria francesa Dassault se ela está disposta a flexibilizar a proposta de Sarkozy ¿ disse Lula.

Ele lembrou que, ao assumir a Presidência pela primeira vez, chegou a suspender as compras de caças porque, na época, o país não estava bem financeiramente: ¿ Suspendi a discussão porque encontrei o país em miséria absoluta e eu não podia comprar avião com o povo passando fome.

Lula inaugurou um cais no porto de Suape, participou de cerimônia no estaleiro Atlântico Sul, o maior da América Latina, e, em seguida, acionou simbolicamente o moinho da Bongi. À tarde, inaugurou duas escolas federais, uma em Ipojuca e outra, por teleconferência, em Floresta.

À noite, participou de solenidade no Centro Regional de Ciências Nucleares, em Recif