Título: Lula critica pânico gerado por manchetes de jornal
Autor: Melo, Liana; Rangel, Juliana
Fonte: O Globo, 12/09/2009, Economia, p. 35

Presidente critica ainda empresário que não investiu. Para Meirelles, não é hora de "baixar guarda"

IPOJUCA (PE), SÃO PAULO e BRASÍLIA. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva comemorou ontem o crescimento de 1,9% do PIB do segundo trimestre. Ele afirmou que a economia brasileira está se recuperando e que a queda anterior ¿ foram duas retrações consecutivas ¿ deveu-se sobretudo àquela parte da sociedade que entrou em pânico ¿por acreditar mais nas manchetes dos jornais do que naquilo que a gente falava que ia acontecer no país¿. Lula criticou os empresários que desativaram investimentos e deram férias coletivas aos seus empregados. E voltou a defender o Estado como indutor do desenvolvimento e administrador das crises.

¿ Hoje, os dados do IBGE mostram que nós não estávamos tão errados quando dizíamos para o povo brasileiro acreditar no Brasil, porque não dependíamos de ninguém a não ser da nossa capacidade produtiva.

Acho que esse país tem que aprender uma lição, e isso está acontecendo ¿ afirmou o presidente, em visita ao estaleiro Atlântico Sul, no complexo industrial de Suape, a 60 quilômetros de Recife.

Mantega: país vai crescer até 3% no terceiro trimestre Lula ressaltou que a crise no país não foi tão intensa por três motivos: a solidez da economia; o maior preparo do sistema financeiro; e as medidas adotadas pelo governo. Também fez uma firma defesa do Estado: ¿ Houve um tempo nesse país em que se decidiu, copiando uma doutrina elaborada pelo Consenso de Washington, que o Estado brasileiro não tinha competência para nada. Precisou um deus-Estado (deus-mercado) quase quebrar a economia mundial em um piscar de olhos, para que as pessoas descobrissem que era o Estado que tinha a força, a confiança e o poder de recuperar a economia mundial.

Não que o Estado tenha que ser o gerenciador ou o empresário.

Mas ele tem que ser o regulador, porque só o Estado pode defender os interesses de toda a coletividade, de uma nação.

Em São Paulo, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse que a expansão nos dois próximos trimestres será ainda maior. Segundo ele, a alta do PIB no terceiro trimestre deverá ser se 2% a 3% ante o trimestre anterior. Assim, o país fecharia o ano com avanço de até 1%.

¿ O resultado (do PIB) é muito positivo e mostra que o Brasil é um país com recuperação muito rápida. Isso consolida a previsão de que teremos um resultado positivo em 2009 ¿ disse o ministro, que espera expansão de 3,5% no PIB no segundo semestre.

Para ele, a recuperação da economia brasileira será em ¿V¿, ou seja, forte recuperação econômica após forte queda. Quanto à redução da taxa de investimentos, Mantega alegou que ela é uma das últimas a se recuperar, pois as empresas desovaram seus estoques e só voltarão a investir na expansão de capacidade produtiva a partir do último trimestre do ano.

¿ A recuperação mais rápida é no consumo, por causa dos estímulos ¿ disse ele.

Apesar de ter aplaudido o resultado e de dizer que o Brasil ¿é um modelo para o mundo¿, o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, advertiu que ele não deve levar o Brasil a ¿baixar a guarda¿.

¿ Temos muito para fazer.

Vamos trabalhar sério e duro.

Ele destacou ainda que o país sai da recessão com US$ 220 bilhões em reservas internacionais, além de uma situação fiscal confortável. O ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, por sua vez, disse que o resultado dá segurança para um crescimento forte no ano que vem.

¿ A crise aqui é passado ¿ disse Bernardo, que prevê alta do PIB de 5% em 2010.

Já o ministro do Trabalho, Carlos Lupi, disse que o resultado reforça a projeção de que serão gerados este ano cerca de um milhão de empregos com carteira assinada.

No Congresso, a base aliada comemorou e oposição adotou tom mais cauteloso. Em nota, o presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra, disse que o correto seria comparar o resultado com outros emergentes, como a China, e não com os países ricos