Título: Com PIB maior, mercado vê expansão em 2009
Autor: Melo, Liana; Rangel, Juliana
Fonte: O Globo, 12/09/2009, Economia, p. 35

Economistas revisaram suas previsões para o crescimento da economia do país. Apostas vão até alta de 1,4%

RIO e NOVA YORK.Com a recessão técnica ficando para trás ¿ caracterizada por dois trimestres seguidos de desaceleração econômica ¿ os analistas estão revisando para cima as projeções do PIB feitas para 2009. Ainda que a expansão de 1,9% no segundo trimestre não tenha sido surpresa geral, já que o ministro da Fazenda, Guido Mantega, havia indicado para uma expansão acima de 1,8%, o resultado divulgado ficou no topo das estimativas. Se antes havia várias apostas de que a economia teria retração neste ano, agora já é quase consenso que o Brasil vai crescer.

O economista sênior do Santander Asset Management, Ricardo Denadai, esperava que o PIB cresceria 1,6% no segundo trimestre. Depois da divulgação dos números do IBGE, ele revisou sua estimativa de crescimento de 2009 de uma queda de 0,5% para expansão de 0,2%.

¿ Outros indicadores de julho e agosto estão apontando para o crescimento da atividade.

O principal é que o ciclo de ajustes de estoques acabou no primeiro semestre, de forma que já teremos um crescimento da produção nos próximos meses ¿ acredita.

Segundo ele, o consumo foi o principal motor da expansão, o que deve continuar ocorrendo.

¿ Em 2008, o desemprego estava na mínima e a massa salarial na máxima. Com a crise, houve queda no emprego, mas o rendimento real foi preservado por conta do reajuste do salário mínimo e de várias negociações salariais que deram aumentos acima da inflação. Isso ajudou no consumo ¿ diz.

O economista Bernardo Wjuniski, da Tendências, também está convencido de que a recessão acabou. A dúvida é saber a velocidade de recuperação.

No exterior, surpresa e elogios ao crescimento A Tendências esperava que o país cresceria 1,6% no segundo trimestre e está refazendo seus cálculos. Mas ele antecipa que a previsão original ¿ queda de 0,6% em 2009 ¿ ficou para trás.

O economista-chefe da Concórdia, Elson Teles, também está revisando suas estimativas para cima. Apesar de achar que ¿a economia está apenas começando a sair do buraco¿, está mudando a previsão original de queda de 0,2% a 0,3%.

Ele observa que, como a retração muito forte no quarto trimestre de 2008, a base de comparação é deprimida e as chances de crescimento agora tornam-se maiores.

O professor Carlos Eduardo Soares Gonçalves, da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da USP, previa retração de 0,5% do PIB no ano. Agora já acredita em crescimento de até 0,5%. Para ele, o corte temporário de impostos é uma ¿receita de livro¿ contra crises e permitiu a recuperação brasileira.

¿ Todos os setores devem entrar 2010 em crescimento ¿ prevê o economista da MB Associados Sérgio Vale, que espera alta do PIB de 0,2% em 2009.

Mais otimista, o economistachefe da Austin Rating, Alex Agostini, estima agora que a economia brasileira deve crescer 1,4% no ano, contra expectativa anterior de 0,7%.

¿ É impossível esperar retração com tudo que foi feito aqui e no exterior para estimular a economia ¿ afirma Agostini, elogiando a política anticíclica.

Em Nova York, bancos e consultorias elogiaram o desempenho do PIB. Pesquisa feita pela agência Reuters com economistas americanos previa expansão de 1,6% do PIB na comparação trimestral.

¿ A notícia de um crescimento positivo de 1,9% em relação ao trimestre anterior torna o Brasil o primeiro país latinoamericano a retomar o crescimento.

A demanda interna está respondendo fortemente ao estímulo do governo ¿ avalia o economista José Alfredo Coutino, da Moody¿s Economy, braço de análises da agência de risco que leva o mesmo nome.

Paulo Leme, economista-chefe para America Latina do Goldman Sachs, escreveu nota a clientes dizendo que o ¿impressionante crescimento econômico do segundo trimestre de 2009 vai firmar-se no segundo semestre e levar a economia brasileira a terminar o ano com crescimento zero¿. A previsão inicial era de contração de 0,4%.

O BNP Paribas também revisou previsões. Mas o economista Alexandre Lintz acha que o PIB recuará 0,3% no ano. Antes, apostava em queda de 0,9%.

Pelas contas do mercado, o Brasil precisaria crescer 1,4% no segundo semestre para chegar ao fim do ano no mesmo nível de 2008: com crescimento zero. Para crescer 0,5% em 2009, seria necessária expansão de 2,4%.

COLABORARAM: Marília Martins, correspondente, e Cássia Almeida