Título: 'Será preciso um novo motor econômico
Autor: Sarmento, Claudia; Scofield, Gilberto
Fonte: O Globo, 13/09/2009, Economia, p. 13

Para o ex-vice-presidente de Política Econômica do Banco Mundial e professor da Universidade George Washington Danny Leipziger, o equilíbrio entre produção chinesa e consumo americano que sustentava a expansão da economia mundial não vai se repetir. ¿Novos motores de crescimento econômico

O GLOBO: No mês passado o presidente do banco central americano, Ben Bernanke, fez um discurso otimista, que levou o mercado à euforia.

Há indicadores que respaldam esse otimismo? DANNY LEIPZIGER: A pergunta é se a queda livre (da economia) acabou. Acredito que Bernanke estava acenando que sim, e concordo com ele. A confiança está voltando e o mercado financeiro está estabilizado. O que está tornando a recuperação lenta é o alto desemprego. Isso deprime a economia e retarda o retorno a melhores índices de crescimento. A meu ver, no início de 2010 veremos crescimento da economia global.

Nos últimos anos, a combinação do consumo americano e da produção chinesa proporcionaram o crescimento mundial. Agora, os americanos estão poupando. Voltaremos ao modelo anterior? LEIPZIGER: Esse desequilíbrio gêmeo não vai se repetir, e os consumidores nos EUA vão poupar para reconstruir os ativos perdidos.

Logo, novos motores de crescimento econômico serão necessários.

Mas levará anos até que a demanda global seja restaurada.

Os países ampliaram gastos públicos para saírem da crise.

Não está se criando uma demanda artificial perigosa que poderia levar a uma nova bolha? LEIPZIGER: O gasto público tem de ser temporário, ágil e politicamente reversível. Os que reduziram impostos e estenderam seus programas sociais fizeram a coisa certa. Entretanto, eles enfrentarão dificuldades fiscais no futuro.

Em 2008, chegou-se a falar em um novo Bretton Woods (conjunto de regras comerciais e financeiras acordadas em 1944). Mas a proposta parece ter perdido força.

LEIPZIGER: Em relação ao Fundo Monetário Internacional (FMI), a ideia de que a Bélgica tem mais votos que a Coreia do Sul, por exemplo, já é vista como inapropriada.

Logo, a reforma virá. Quanto à regulação de forma mais geral, veremos mudanças para adequação de capital (das instituições financeiras) e, espero, maior supervisão.

Riscos sistêmicos serão monitorados de perto.

Que lições a crise deixou? LEIPZIGER: Primeiro, que a combinação de uma política monetária excessivamente acomodada com uma fraca supervisão é mortal. Em segundo lugar, quando as economias vivenciam um colapso generalizado, respostas coordenadas são essenciais. Por último, a perda de empregos expande o papel do governo, que passa a atuar como apagador de incêndios e, ao mesmo tempo, como assistente social.