Título: Mudanças necessárias à regulação de bancos não deslancharam até hoje
Autor: Melo, Liana
Fonte: O Globo, 13/09/2009, Economia, p. 28

Objetivo era evitar novas crises como a que levou à quebra do Lehman Brothers

A crise financeira global criou uma urgência nas propostas para uma mudança radical na regulação bancária. Só assim, apregoavam os especialistas, seria possível evitar crises futuras como a que levou à falência do banco americano Lehman Brothers. Mas tudo não passou de retórica.

Um ano depois de a crise contaminar os mercados do mundo todo, a partir da quebra do Lehman, nenhuma proposta de regulação bancária saiu efetivamente do papel.

O ex-presidente do Banco Central (BC) Arminio Fraga, presidente do Conselho de Administração da BM&F Bovespa, chegou a elaborar um documento com 18 sugestões para uma ampla reforma financeira.

O relatório, de 73 páginas, foi entregue em janeiro ao presidente americano Barack Obama.

Entraves políticos dificultam reforma O texto foi assinado em conjunto com o ex-presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) Paul Volcker, que assumiu a presidência do Conselho de Recuperação Econômica de Obama, e o ex-ministro das Finanças da Itália Tommaso Padoa-Schioppa. Os três fazem parte do Grupo dos 30, organização de acadêmicos e ex-ministros de Finanças.

¿ Ainda que seja uma necessidade premente uma nova regulação bancária, são muitos os entraves políticos ¿ admite Arminio, sócio do Gávea Investimentos.

O problema, na opinião do ex-diretor de Política Econômica do BC Ilan Goldfajn, é que ¿interesses específicos estão agora dominando o senso de urgência¿: ¿ Alguma reforma será aprovada sim, o problema é que ela virá acompanhada de mudanças bem menos rigorosas do que se imaginava originalmente.

Já na opinião de Carlos Thadeu de Freitas, também exdiretor do Banco Central, a nova regulamentação ainda não saiu do papel porque o mercado precisa voltar à normalidade, e os bancos, por sua vez, ainda não retomaram os empréstimos.

No Brasil, um mercado financeiro já regulado O economista Armando Castelar, diretor do Gávea Investimentos, está convencido de que chegou o momento mais difícil da discussão.

Agora que todos já sabem quais são as medidas necessárias, difícil mesmo vai ser colocá-las em prática.

Enquanto governos e reguladores se digladiam, o Brasil mantém sua posição confortável na discussão. É que o sistema financeiro aqui já é tão regulado, que, dificilmente, as mudanças aprovadas lá fora serão mais rigorosas do que as adotadas internamente no país.

¿ A vantagem é que se o mundo ficar mais rígido, o Brasil só tem a ganhar, porque o mercado financeiro local vai ficar mais competitivo ¿ diz Castelar.

Por enquanto, há consenso apenas em torno da necessidade de reduzir a remuneração dos executivos, de definir novos limites para alavancagem e de cobrar exigência maior de capital das instituições.