Título: Não sou porteiro do Senado
Autor: Guardiola, Graziela
Fonte: O Globo, 16/09/2009, O País, p. 4

Renan admite: funcionário estudou no exterior recebendo salário

BRASÍLIA. Assim como o líder tucano Arthur Virgílio (AM), o líder do PMDB, Renan Calheiros (AL), também manteve na folha de pagamento do Senado, só que por três meses, um funcionário comissionado de seu gabinete que foi fazer um curso no exterior, como antecipou ontem o blog do jornalista Fábio Pannunzio, da TV Bandeirantes. Ao contrário do tucano, porém, Renan se isentou de responsabilidade sobre o fato, alegando que não cabe a um senador fiscalizar a frequência de servidores.

Essa prática, que motivou a representação do PMDB contra Virgílio no Conselho de Ética, era corriqueira entre os funcionários de carreira da Casa. Pelas regras que existiam até o início deste ano, todo funcionário, após cinco anos de serviço, poderia requisitar licença de capacitação no exterior, por até três meses, sem perder seus vencimentos.

Depois de ter sido alvo da representação e de agressivo discurso de Renan, Virgílio cobrou ontem da tribuna explicações. O tucano admitira o erro de ter mantido por 14 meses um funcionário que estudava na Espanha. Absolvido por unanimidade, no Conselho, até porque devolveu aos cofres do Senado os R$ 326 mil gastos pela instituição com o servidor ausente, Virgílio esperava gesto semelhante: ¿ O dever dele (Renan) é fazer o que fiz. Tive de vender um imóvel da família e pegar um empréstimo para quitar essa dívida, mesmo sem que ela tivesse sido cobrada. Mas acho que estabeleci um padrão ético na Casa.

Renan pouco explicou sobre o fato de seu ex-funcionário, o hoje deputado estadual Rui Soares Palmeira (AL) ¿ filho do ex-senador e ex-ministro do Tribunal de Contas da União Guilherme Palmeira ¿, ter recebido salários entre dezembro de 2005 e março de 2006, quando estava na Austrália. Ele rebateu a versão de Palmeira, que, ao blog de Fábio Pannunzio, disse ter recebido autorização de Renan: ¿ Eu não autorizei nada. Mandei que ele consultasse o chefe imediato dele para saber se não havia qualquer irregularidade.

Não sou porteiro do Senado.

Virgílio não representará contra o colega.

Mas cobrou da Mesa a lista dos servidores que já fizeram curso no exterior às custas da Casa. Entre eles está o atual diretor-geral, Haroldo Tajra. Por meio de sua assessoria, o diretor admitiu que fez curso de aperfeiçoamento em língua inglesa no instituto Eurocenters, em Londres. O curso, iniciado em maio de 2008, teria durado dois meses. Tajra era lotado na 1asecretaria. Esse direito, garantido aos funcionários efetivos desde novembro de 2001, foi alterado em 4 de fevereiro deste ano por ato número 12 do presidente José Sarney (PMDB-AP).