Título: Países da Unasul divergem sobre armas
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Fonte: O Globo, 16/09/2009, O Mundo, p. 31

Venezuela e Colômbia se acusam e pedem transparência em acordos militares. Peru adverte para corrida armamentista QUITO. Preocupações com uma corrida armamentista e os recentes acordos militares de países da região com Estados Unidos e Rússia dominaram ontem a reunião da União de Nações Sul-Americanas (Unasul), em Quito. O encontro foi marcado pelas rusgas entre Colômbia e Venezuela, com cada país pedindo mais transparência na política de segurança do vizinho, e terminou sem um consenso.

A reunião a portas fechadas dos ministros do Exterior e da Defesa dos 12 países da Unasul aconteceu em meio ao temor deflagrado pelo acordo entre Colômbia e EUA, para que militares americanos utilizem sete bases na região, e o anúncio de uma nova compra de armas russas pela Venezuela. Mas conseguiu apenas acordos parciais, como na troca de informações sobre gastos na defesa e notificação de operações na fronteira, informou o Equador, que detém a presidência temporária do bloco.

O chanceler boliviano, David Choquehuanca, disse que a recusa da Colômbia em detalhar o acordo impediu uma resolução definitiva. Uma nova reunião será marcada.

O clima da reunião foi tenso.

O primeiro atrito surgiu quando o vice-presidente da Venezuela, Ramón Carrizález, acusou a Colômbia de sonegar dados sobre o acordo com os EUA.

¿ Não vimos letras grandes nem pequenas e por isso as verdadeiras cláusulas do acordo geram preocupação ¿ afirmou Carrizález.

Colômbia exige contrapartida de vizinhos Em resposta, a Colômbia disse que daria informações sobre o tratado, desde que o mesmo fosse feito com outros acordos bilaterais de países da região.

¿ A Colômbia está disposta ao que se chama de simetria.

Queremos que todos ofereçam garantias, informações e abram suas portas ¿ disse o ministro da Defesa, Gabriel Silva.

O tom subiu após uma declaração da secretária de Estado americana, Hillary Clinton, que recebia o presidente do Uruguai, Tabaré Vázquez, em Washington.

Hillary mostrou-se preocupada com o anúncio de que a Venezuela recebera um crédito de US$ 2,2 bilhões da Rússia para a compra de armamento.

¿ Os números ultrapassam os de todos os outros países na América do Sul e certamente levantam a questão de se haverá uma corrida armamentista. Pedimos à Venezuela que seja transparente e clara ¿ disse Hillary ao lado de Vázquez, para quem a corrida já começou.

Em Quito, o chanceler venezuelano, Nicolás Maduro, reagiu duramente a Hillary.

¿ Estas declarações, sinceramente, não têm base política ou moral ¿ afirmou.

Não só a Venezuela está negociando a compra de armas, como o Brasil está em processo similar com a França; e a Bolívia anunciou planos para comprar aviões de combate e helicópteros franceses e russos.

¿ Não queríamos comprar armas, mas o que vamos fazer se os ianques estão montando sete bases aqui? ¿ disse o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, na noite de segundafeira. ¿ Que ninguém pense em se meter conosco.

O presidente da Colômbia, Álvaro Uribe, declarou em Medellín que a motivação do acordo com os EUA era a preocupação com a situação interna do país.

¿ O governo tomou a decisão de dotar o país com instrumentos necessários para recuperar a ordem interna ¿ disse.

O Brasil propôs que os acordos militares dos países da Unasul sejam informados por seus ministérios da Defesa.

¿ Creio que a Colômbia ainda não percebeu totalmente o grau de incômodo que (o acordo) causa a outros países ¿ disse o chanceler Celso Amorim.

Numa carta aos ministros da Unasul, o presidente do Peru, Alan García, pediu que o armamentismo seja freado e propôs que o Conselho de Defesa SulAmericano torne públicos os gastos militares. ¿Devemos pôr as cartas sobre a mesa¿, destacou García. ¿O segredo entre nós só beneficia os grandes vendedores de armas e seus intermediários corruptores