Título: Novo fôlego nos mercados
Autor: Rangel, Juliana
Fonte: O Globo, 17/09/2009, Economia, p. 23

Bolsa de São Paulo passa de 60 mil pontos e dólar recua para R$1,80

Aretomada da confiança dos investidores no mercado global, reforçada ontem por dados positivos de produção industrial e inflação da economia americana, fez com que investidores voltassem com apetite para mercados de commodities (matérias-primas) e ações. A busca por mais risco derrubou a cotação do dólar frente a outras moedas no mundo. No Brasil, a divisa recuou 0,39%, para R$1,80, menor valor em 12 meses. O Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), subiu 1,94%, rompendo a barreira dos 60 mil pontos pela primeira vez desde julho de 2008.

O volume movimentado ontem na Bolsa também ficou acima da média diária do mês, de R$5 bilhões: R$7,091 bilhões. Isso não ocorria em um dia comum (sem vencimentos de contratos de opções de ações) desde maio de 2008. Já o número de negócios alcançou 494.430 transações, nova máxima histórica. Para a corretora do banco Itaú, em 2010 o Ibovespa pode atingir 74.500 pontos.

Entre as maiores altas da Bolsa estiveram as ações de setores ligados a infraestrutura. Os papéis preferenciais (PN, sem direito a voto) da Gerdau Metalúrgica subiram 3,9%. Os da siderúrgica ganharam 3,5%. Já as ações da CSN tiveram alta de 3,3%, enquanto os papéis PN da Petrobras se valorizaram 2,8%.

- Estamos assistindo a uma melhora do ambiente. Várias empresas estão emitindo dívidas e ações, um sinal de que o mercado está voltando à normalidade. O Brasil sofreu menos na crise e tem uma perspectiva de crescimento para 2010 muito acima do restante do mundo, o que o coloca em posição de vantagem - observou o analista Hersz Ferman, da Um Investimentos.

Moeda pode cair ainda mais, diz especialista

No câmbio, a valorização do real foi estimulada pela entrada de investidores estrangeiros na Bolsa. Logo após a abertura do mercado, o dólar chegou a ser negociado a R$1,795. Para especialistas do mercado, a probabilidade de a moeda chegar a R$1,70 até o fim do ano é grande. Um dos motivos seria a oferta de ações de diversas companhias na Bovespa, que deve atrair capital externo.

- Além disso, estamos esperando para este mês a nota de grau de investimento da Moody"s (a agência classificadora de risco colocou o país sob observação para possível elevação), e isso pode atrair ainda mais recursos via mercado e investimentos diretos. A retomada do mercado está se dando com maior velocidade que a da economia real - disse o superintendente de câmbio da Advanced Corretora, Reginaldo Siaca.

Mas ele não descarta um movimento de venda de ativos pelos investidores para embolsar lucros na Bolsa nos próximos dias, o que provocaria altas isoladas na moeda americana.

Opinião parecida tem o diretor de câmbio da NGO Corretora, Sidnei Nehme. Ele ressaltou que "ainda há muita insegurança", o que está fazendo a cotação do ouro ficar acima de US$1 mil. Ontem, a onça-troy (31,10g) bateu o maior patamar em 18 meses: US$1.020,20. Ao mesmo tempo, o euro registrava a maior cotação frente ao dólar em 18 meses, US$1,4736.

Em Wall Street, pesaram dados positivos sobre a economia americana. A produção industrial cresceu 0,8% em agosto, acima das estimativas, de 0,6%. Em julho, a alta foi de 1%. Já os preços ao consumidor avançaram 0,4% mês passado, após ficarem estáveis em julho, puxados por combustíveis. As projeções eram de 0,3%. Analistas viram nisso um reaquecimento do consumo. O índice Dow Jones fechou em alta de 1,12%, enquanto Nasdaq e S&P avançaram 1,45% e 1,53%, respectivamente.

O Banco Central informou ontem ter feito pequenas intervenções no câmbio entre os dias 1º e 11 deste mês, com compras diárias abaixo de US$100 milhões. Ao todo, elas engordaram as reservas internacionais (hoje em US$222 bilhões) do país em US$636 milhões.

COLABOROU Patricia Duarte, com agências internacionais