Título: Jobim: Colômbia freou acordo militar na Unasul
Autor: Suwwan, Leila
Fonte: O Globo, 17/09/2009, O Mundo, p. 31

Ministro defende aquisição feita pelo Brasil, que "não é uma Venezuela, que compra no supermercado de armas internacional"

BRASÍLIA, BOGOTÁ e CARACAS. O ministro da Defesa, Nelson Jobim, afirmou ontem que resistências e falta de garantias formais da Colômbia levaram ao fracasso a tentativa de fechar um acordo militar entre os 12 países da União de Nações Sul-Americanas (Unasul) anteontem em Quito, Equador. Em audiência na Comissão de Relações Exteriores e Defesa do Senado, Jobim defendeu ainda as novas aquisições de armamentos que o Brasil decidiu fazer, dizendo que o "Brasil não é como a Venezuela, que compra no supermercado de armas internacional", numa crítica à postura do país vizinho sobre o tema.

Indagado pela oposição sobre a aquisição de armamentos, Jobim disse que o país não está simplesmente comprando novos equipamentos:

- O Brasil não está comprando. O Brasil não é uma Venezuela, que compra no supermercado de armas internacional. Queremos fazer uma capacitação (das Forças Armadas). Eu não uso o termo "compras".

Mas defendeu o governo Hugo Chávez, dizendo que a compra de armas pela Venezuela não é preocupante para a região.

- O que aconteceu é que as elites venezuelanas usavam a verba do petróleo em operações comerciais fora do país sem reinvestir no próprio país - disse, acrescentando que a situação criou grande desigualdade social, que Chávez tenta reverter.

Chávez voltou a criticar a Colômbia ontem, dizendo que o país "ficou totalmente isolado" na Unasul, por se negar a explicar a extensão do acordo militar com os EUA, atitude que considerou "vergonhosa". E defendeu a postura do Brasil, que "com muita firmeza exige garantias de que as forças militares ianques não vão fazer incursões em territórios de outros países".

Jobim evitou ainda pôr a aquisição de equipamento militar pelo Brasil no contexto de uma corrida armamentista regional, limitando a estratégia brasileira a uma postura pacífica de capacitação e poder de dissuasão:

- Não temos inimigos. Temos vizinhos e eles têm tensões e conflitos, como a Colômbia e a Venezuela.

Já sobre o acordo militar entre os membros da Unasul, Jobim disse que partiu dele a iniciativa de impedir a coleta de assinaturas dos outros 11 países, devido à falta de consenso. Segundo ele, a Colômbia pediu para analisar melhor três itens do acordo: a apresentação dos tratados de defesa de cada país ao Conselho de Defesa da Unasul; a notificação prévia aos vizinhos em caso de manobras ou exercícios militares na fronteira, e a garantia de que países não permitam ações militares de seus aliados em territórios vizinhos.

- Ontem (terça) fracassou a reunião. A Colômbia não quis firmar nenhum desses pontos - disse.

Colômbia cogitou se retirar da Unasul

A garantia de não-extraterritorialidade de ações militares, que abarca a preocupação regional com o acordo feito pelos EUA para usar bases colombianas, foi a que causou mais atrito. Jobim disse que a Colômbia chegou a oferecer "garantias plenas" de cumprimento do item.

- Mas nós pedimos garantias formais, como um posicionamento por nota diplomática - afirmou, explicando que só assim a norma teria validade.

O ministro da Defesa colombiano, Gabriel Silva, disse ontem que o encontro em Quito foi difícil porque houve uma aliança de países contra a Colômbia para questionar o acordo com os EUA. E afirmou que o país considera retirar-se da Unasul:

- Eventualmente se esse impasse se perpetuar, e não virmos uma preocupação sobre o armamentismo, o tráfico de armas, o narcotráfico, o crime organizado, se não houver sensibilidade quanto a esses temas, que são nossos, então caberia avaliar essa possibilidade.

Com agências internacionais