Título: Banco Central estuda medidas para reduzir spread cobrado por bancos
Autor: Duarte, Patrícia; Paul, Gustavo
Fonte: O Globo, 18/09/2009, Economia, p. 26

Previsões de atrasos futuros passariam a ser consideradas no cálculo

BRASÍLIA. O presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles, informou ontem que a autoridade monetária está preparando novas medidas para tentar reduzir os spreads bancários - diferença entre o custo de captação dos bancos e a taxa efetivamente cobrada ao consumidor final. Sem entrar em detalhes, Meirelles não descartou a possibilidade de o BC divulgar os spreads cobrados por cada instituição financeira, algo que ainda não ocorre.

Segundo ele, a redução desse custo passará por uma mudança de metodologia no cálculo dos spreads, o que acabará permitindo ter uma noção mais exata dos custos efetivos que incidem nessa taxa. Meirelles deu como exemplo o cálculo da inadimplência, que hoje é feita em cima das provisões das instituições financeiras e entra na composição do spread. A melhor saída, disse, seria considerar as perdas esperadas, ou seja, as previsões de atrasos futuros e as já realizadas.

- São estudos que estão sendo feitos pela nossa área técnica. Vamos tornar os spreads mais transparentes - afirmou ele, após participar de audiência pública na comissão mista de Orçamento, no Congresso Nacional.

Crédito direcionado também entraria na conta

Hoje, o item que mais pesa na formação dos spreads, segundo o próprio BC, é justamente a inadimplência, com 37,35% do total. As margens de lucro dos bancos respondem por 26,93%, enquanto os custos administrativos por outros 13,50%. Além disso, Meirelles disse que os créditos direcionados - ou seja, com objetivos específicos, como os fornecidos pelo BNDES - também farão parte do cálculo dos spreads. Até agora, apenas os créditos livres fazem parte dessa conta.

O presidente do BC criticou o fato de os spreads cobrados no Brasil serem muito elevados, apesar de estarem em tendência de queda. Em julho, último dado disponível, os spreads para as operações de crédito para pessoas físicas estavam em 35,2 pontos percentuais. Meirelles argumentou que os spreads em outros países são muito menores.

- Eu posso afirmar que a competição leva a isso (redução dos spreads).

Mais tarde, em palestra no Congresso Brasiliense de Direito Constitucional, do Instituto Brasiliense de Direito Público (IDP), o presidente do BC ressaltou a estabilidade da economia brasileira, com a inflação controlada. Ele também insistiu na necessidade de o BC ter sido conservador na política monetária no passado. Segundo ele, foi a decisão de acumular reservas nos últimos anos um dos fatores que levaram o país a resistir à crise internacional.

- Acumular reservas tem custo alto, mas a conta da crise para a sociedade brasileira é maior ainda - disse.