Título: Trabalho infantil cai em 2008, mas ainda atinge 4,5 milhões de crianças
Autor: Almeida, Cássia; Batista, Henrique Gomes
Fonte: O Globo, 19/09/2009, Economia, p. 28

Na faixa entre 5 e 17 anos, um em cada dez trabalham no país

BRENO, 13 anos: "Gosto mais de estudar que trabalhar, mas não tem jeito"

RIO e RECIFE. Embora a Pnad mostre que no ano passado 367 mil crianças deixaram de trabalhar, não há motivos para comemoração: os dados do IBGE indicam que ainda há no país um vergonhoso contingente de 4,452 milhões de menores, com idade entre 5 e 17 anos, que fazem parte das estatísticas do trabalho infantil. Em 2007, 10,9% das crianças e jovens trabalhavam, percentual que foi reduzido para 10,2% no ano passado, mas que mantém a triste média de um menor trabalhador para cada dez crianças brasileiras.

O dado comparável - excluindo os resultados da área rural da região Norte, que só passaram a ser calculados em 2004 - mostram uma redução ainda mais tímida do trabalho infantil, de 10,6% para 10,2%. - A redução do trabalho infantil ainda foi muito pequena no ano passado, ainda mais quando levamos em conta que estávamos vivendo um ótimo período, com grande crescimento econômico - afirmou coordenador de projetos do escritório brasileiro da Organização Internacional do Trabalho (OIT).

Tripla jornada: trabalho, escola e afazeres domésticos

A pesquisa do IBGE aponta que 993 mil crianças de 5 a 13 anos trabalhavam no Brasil em setembro de 2008, o que significa 3,3% da população desta faixa etária. Em 2007, o contingente de crianças nestas condições era de 1,229 milhão, 4% do total. Neste grupo, este ano, cada criança trabalhava em média 16,1 horas por semana, para receber R$100 mensais. No subgrupo de crianças entre 5 e 9 anos, 141 mil trabalhavam, ou 0,9% do total do país. Em 2007, 3,590 milhões de adolescentes de 14 e 17 anos trabalhavam, ou 26,3% do total. No ano passado, segundo a Pnad, deste grupo etário 3,459 milhões trabalhavam, ou 25% do total.

A Pnad aponta ainda que muitas destas crianças de 5 a 17 anos viviam uma situação de "jornada tripla". Ou seja, dos que trabalhavam, 80% estudavam - o que é bom - mas 57,1% ainda tinham que exercer afazeres domésticos.

A pesquisa também apontou que o Nordeste concentra 38,3% das crianças trabalhadoras. Mas, no Sul, a presença dessas crianças trabalhadoras na escola caiu de 81% para 79,4%.

- Isso é um péssimo sinal, indica que a situação da criança está piorando - afirmou Mendes, da OIT.

Breno Filipe dos Santos, de 13 anos, trabalha de manhã, de tarde e de noite. Chega ao banco de feira, no centro, próximo ao Mercado São José, cinco horas da manhã. Recebe, arruma e comercializa frutas e verduras. Às seis da tarde vai para uma pequena lanchonete da avó, onde faz entregas. No fim do dia, leva no bolso R$4 da feira e mais alguns trocados da avó. Também ganha alguns legumes para levar para casa. Ele, que sonha ser motorista de caminhão e gosta de estudar português, pretende voltar a estudar em 2010 - parou na quarta série:

- Eu gosto mais de estudar do que trabalhar, mas não tem outro jeito - afirma.

COLABOROU: Letícia Lins