Título: A última tentativa
Autor: Allan, Ricardo
Fonte: Correio Braziliense, 04/04/2009, Economia, p. 18

A ideia do presidente da China, Hu Jintao, de criar uma moeda global não é nova. Afinal, o ataque atual não é o primeiro sofrido pelo dólar como referência mundial. Na década de 70, logo após a Guerra do Vietnã e sob efeitos do primeiro choque mundial do petróleo, a economia dos Estados Unidos se estatelou sob a frágil presidência de Jimmy Carter. O segundo choque do petróleo piorou a situação e abriu um flanco na guarda da moeda norte-americana. Com o padrão-ouro extinto desde o início da década, os europeus começaram a defender a substituição do dólar como referência monetária.

Nesse período, a população dos Estados Unidos sentiu a crise no bolso, pois a inflação anual chegou aos 13,85%. Naqueles anos, um índice de 7% era considerado muito forte. Desestabilizado, o dólar poderia derreter. A reação foi forte. Sob a mão de um economista duro como pedra, Paul Volcker, o Federal Reserve (banco central norte-americano) subiu os juros para 17% em 1980 e trancou as portas do Tesouro.

O desemprego foi o maior desde a Grande Depressão, fábricas fecharam e o mundo se arruinou. A dose foi pirotécnica, mas os EUA saíram da crise já no governo Reagan e puxaram o resto do mundo com corte de impostos, muito gasto militar e tapete vermelho ao capital. Agora, enfraquecido pela crise econômica que originou-se de especulações financeiras nos Estados Unidos, o dólar volta a passar por um teste. Há quem aposte que, desta vez, o fim da história será diferente, pois a opção de elevar os juros à estratosfera não existe. (Da Redação