Título: Usinas nucleares serão necessárias para atender à demanda em 2025
Autor: Tavares, Mônica
Fonte: O Globo, 20/09/2009, Economia, p. 29

Hidrelétricas não poderão ampliar sua capacidade, alerta secretário

BRASÍLIA. A utilização de usinas nucleares para gerar energia elétrica a partir de 2025/2030 será necessária para atender ao consumo brasileiro - quando aquela oriunda das hidrelétricas, a mais barata e limpa em termos ambientais, estará esgotada. No plano estratégico do governo já estão previstas mais quatro usinas nucleares, sendo duas entre o Norte do Rio e o Sul do Espírito Santo. As outras deverão ficar no Nordeste.

Segundo o secretário de Planejamento e Desenvolvimento Energético do Ministério de Minas e Energia, Altino Ventura Filho, os estudos para escolher os locais definitivos serão feitos em 2010. Elas ficarão na mesma área, como acontece com as três usinas de Angra dos Reis.

- O potencial brasileiro se esgota. São 260 gigawatts (GW) de potencial que o país tem e só vai usar 180GW, pois 80GW estão em terras indígenas e parques nacionais, onde não se pode aproveitá-los. Esses 180GW não são suficientes para atender à demanda - disse Ventura.

No período em questão, a população vai passar de 185 milhões para 238 milhões, um aumento de 53 milhões - mais que os 40 milhões da Espanha e os 51 milhões do Nordeste.

O fato é que, após ter sido considerada vilã e uma opção perigosa em termos de abastecimento, a energia nuclear vem sendo apontada internacionalmente como uma das mais importantes alternativas para combater o aquecimento global e a poluição. O diretor-geral da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), Nelson Hubner, afirma que a energia nuclear entrará fortemente em vários países.

Sem estímulo, mão de obra vai se perder, afirma EPE

As usinas de energia eólica funcionam 40% do tempo, e as de biomassa, movidas a bagaço de cana, trabalham sete meses no ano, disse o presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Maurício Tolmasquim:

- A saída são as térmicas a carvão ou as nucleares, que têm mais ou menos o mesmo preço. Mas o carvão tem muitas restrições ambientais.

O preço da energia nuclear é bastante competitivo, entre R$120 e R$170 o megawatt-hora (MWh). O da gerada por gás natural está entre R$120 e R$190. A mais barata é a hidrelétrica: de R$60 a R$120.

Tolmasquim ressaltou que, neste momento, a opção pelas usinas nucleares é estratégica. Ele destacou que só três países dominam toda a cadeia de enriquecimento do urânio: Brasil, Estados Unidos e Rússia.

- Se não houver estímulo, vamos perder a formação de mão de obra, que é do tempo do acordo Brasil-Alemanha (década de 70) - afirmou.

O grande problema da energia nuclear continua sendo onde depositar os rejeitos, ou lixo atômico. Hoje, Angra 1 e 2 utilizam um sistema precário de piscinas. O Greenpeace lembra que a construção de mais usinas e o término de Angra 3 significarão mais lixo radioativo.