Título: Em ação nas ruas, o personal policial
Autor: Carvalho, Jailton de
Fonte: O Globo, 21/09/2009, O País, p. 3

Ministério da Justiça diz que quer reduzir compra de carros e reforçar o policiamento comunitário

BRASÍLIA e FORTALEZA. Um estudo do Ministério da Justiça descobriu que os carros da polícia circulam em excesso, com pouco resultado prático. Cada carro roda 200 mil km por ano, o que obriga os governos estaduais a renovar frotas a cada dois anos. Como boa parte dos gastos é bancada com recursos federais, o Ministério da Justiça vai reduzir a verba para carros e aumentar a dos programas de polícia comunitária. Este ano, do R$1,1 bilhão do Fundo Nacional de Segurança Pública, R$800 milhões são para programas não vinculados à compra de carros, coletes ou armas.

A ideia é incentivar o "policiamento de proximidade" em substituição ao modelo do "radiopatrulhamento", em vigor há 40 anos e cuja proposta de segurança ostensiva é baseada na circulação de carros e no sistema de telefonia centralizado no 190. Segundo o secretário nacional de Segurança Pública, Ricardo Balestreri, a circulação de carros não evita crimes e, quando as vítimas acionam o 190, os policiais chegam atrasados.

- É o espetáculo da segurança, que não funciona mais - diz Balestreri.

Experiências inovadoras estão sendo implantadas no Rio, com as Unidades de Polícia Pacificadora, como as que estão nos morros Santa Marta e Babilônia. Em Rio Branco, no Acre, o programa se chama Polícia de Família: os policiais visitavam famílias para resolver conflitos e se antecipar a crimes.

No Ceará, outra experiência: o Ronda do Quarteirão, que deu aos moradores os números dos telefones dos policiais. Em emergências, em vez de ligar para o 190, eles telefonam para o policial, que tem de estar por perto. Três princípios norteiam o programa: proximidade, uso legal da força e respeito aos direitos humanos. A estreia, em novembro de 2007, foi marcada pelo impacto das 205 camionetas Hilux, que custaram R$31 milhões. O programa opera em Fortaleza e mais 23 municípios. A proposta é resgatar a confiança entre cidadão e polícia. Os carros circulam numa área de três quilômetros quadrados, e os chamados são atendidos em até cinco minutos.

Panfletos e ímãs de geladeira foram distribuídos com o telefone do carro de cada área. Um sistema encaminha a ligação para o 190, caso o celular esteja ocupado. Divididas em turnos, três equipes se revezam por área. O veículo é rastreado eletronicamente. Tem computador, rádio e duas câmeras, que filmam o que se passa à frente e atrás do carro. É um mecanismo de segurança, tanto para proteger o policial quanto para evitar excessos. O número de câmeras deve dobrar depois que denúncias de maus-tratos contra presos nos veículos foram levadas à Secretaria de Segurança Pública e ao Ministério Público. A maior parte do dinheiro - R$68 milhões de 2007 até o fim deste ano - vem do Tesouro Nacional.

A última pesquisa encomendada pelo governo mostra que 77% da população avalia o Ronda como bom e ótimo. No bairro Vicente Pinzon, próximo a duas favelas perigosas, moradores dizem que os assaltos continuam, mas que a situação era pior:

- Quando o Ronda começou, era mais atuante. Apesar disso, temos a sensação de segurança porque, quando a gente liga, eles vêm - diz o comerciante José Reinaldo.

- O Ronda é preventivo. Houve redução dos crimes relacionados à ausência do policial - disse o coronel Joel Brasil, coordenador do programa, afirmando que a redução de roubos e furtos a pessoas e a lojas foi de 3% e 4%, enquanto o roubo a taxistas caiu 37%. (Jailton de Carvalho e Isabela Martin)