Título: O Natal que importa
Autor: Novo, Aguinaldo; Ribeiro, Fabiana
Fonte: O Globo, 22/09/2009, Economia, p. 19

Comércio amplia encomendas do exterior e preços ao consumidor ficam até 30% menores

RIO e SÃO PAULO Àespera do Natal, o comércio brasileiro já dá início às compras de artigos importados, como alimentos, bebidas, brinquedos e cosméticos.

O dólar baixo ¿ somente este ano, a moeda já registrou queda de mais de 20% ¿ ajuda nas negociações com os fornecedores estrangeiros. Contudo, é o consumidor mais confiante que traz aos varejistas a promessa de vendas melhores em fins de 2009. Com isso, o volume das encomendas deve ser maior do que o que se viu no ano anterior e, em alguns casos, os preços ficarão até 30% mais em conta do que os de dezembro de 2008. Em lojas com encalhes do Natal anterior, essa redução deverá ser ainda mais forte.

¿ Do lado da demanda, o consumidor está mais confiante e ainda com mais renda para gastar. Do lado da oferta, os lojistas ainda reduzem preços para levar as pessoas a comprarem, mesmo a economia brasileira passando por uma retomada atualmente.

Então, neste fim de ano, as expectativas são de preços mais bem comportados do que em 2008 e, assim, mais atraentes para as famílias ¿ disse Christian Travassos, economista da Fecomércio-RJ.

Travassos lembra que, em setembro do ano passado, o dólar estava no mesmo patamar de agora: em torno de R$ 1,80 na média. Assim, o que está pesando mais fortemente na decisão de aumentar o volume de importações não é a comparação das cotações, mas a queda da moeda americana este ano, que acumula 22,8%.

Em grandes ou pequenas redes, as importações devem se intensificar no fim de ano. No Grupo Pão de Açúcar, as compras de enfeites de Natal e de brinquedos do exterior vão crescer até 30%. As de frutas subiram 20%; as de bacalhau e salmão, 10%; e as de vinho, 10%.

¿ No caso de enfeites e brinquedos importados, será o melhor Natal dos últimos três anos ¿ disse o diretor de Compras Globais do grupo, Sandro Benelli, que considerou uma banda entre R$ 1,80 e R$ 2 para o dólar nas suas projeções.

Eletroeletrônicos devem liderar as vendas

Já na PbKids, com lojas no BarraShopping e Fashion Mall, o estoque de brinquedos importados deve ser reforçado em 15% neste fim de ano. Na Papel Machê, do Via Parque Shopping, o investimento nas importações não se alterou de um ano para o outro ¿ R$ 500 mil. No entanto, os preços dos importados podem ficar 8,5%, em média, mais baixos que os do ano passado. A loja ainda está com o estoque de importados de Natal de 2008, com 50% de desconto.

Na Lidador, por sua vez, o maior volume de produtos importados pode ser traduzido para os consumidores em preços menores: ¿ O Natal este ano promete ser bem mais farto que o do ano passado. Os clientes vão encontrar muitas ofertas nos produtos importados devido à queda do dólar este ano.

Vão poder comprar a mesma quantidade de itens com preços bem mais acessíveis. O bacalhau, por exemplo, que é um dos pratos típicos da época, já está sendo oferecido pelos fornecedores estrangeiros com preços até 30% mais baratos do que em 2008.

Outros itens que terão queda nos preços são vinhos, uísques e champanhes ¿ citou Luiz Garcia, gerente da Lidador do Shopping Tijuca.

O reaquecimento da economia, confirmado pela evolução positiva do Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos pelo país) no segundo trimestre, já embala as previsões do varejo e da indústria para as vendas de fim de ano.

A expectativa inicial é de uma alta entre 8% e 10% das vendas, na comparação com o Natal de 2008 ¿ afetado pelos efeitos da crise financeira global, que hoje há um ano estava em sua fase mais aguda.

¿ Todo mundo imaginou que o mundo fosse acabar, e isso não aconteceu ¿ afirma o economista da Federação do Comércio de São Paulo (Fecomercio-SP), Fabio Pina.

Os números do PIB no segundo trimestre, divulgados pelo IBGE no último dia 11, mostraram que a crise financeira passou ao largo dos consumidores. Os gastos das famílias brasileiras crescem há quase seis anos. Um termômetro disso é a forte expansão dos serviços de informação, embalados pela telefonia móvel e a informática, que cresceram 6,8% entre os meses de abril e junho.

O Wal-Mart prevê fechar entre o fim deste mês e meados de outubro a negociação de compras com fornecedores locais. Os contratos de importação de produtos, sujeitos a prazos maiores de entregas, já foram assinados pelo varejista. O grupo espera crescimento de até 20% nas vendas em alguns segmentos, como de produtos eletrônicos e enfeites.

¿ Percebemos uma recuperação bastante forte em categorias de não-alimentos, que voltaram a crescer a taxas de dois dígitos nos últimos meses ¿ disse o vicepresidente Comercial do Wal-Mart Brasil, Marcelo Vienna.

Sonho de consumo da maioria dos brasileiros, os produtos eletroeletrônicos devem continuar liderando as vendas de fim de ano em 2009, mas o desempenho final do setor ainda depende da decisão do governo de prorrogar ou não o desconto do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para a linha branca (geladeiras, fogões e máquinas e lavar) ¿ que acaba no próximo mês.

Parte das negociações ainda depende de IPI

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, já afirmou que o governo não pretende renovar o benefício. Mas representantes do setor pretendem apresentar a Mantega um pedido para que mantenha a redução temporária do IPI pelo menos até o fim deste ano. Depois disso, a ideia é negociar um corte permanente no imposto, com a criação de uma política de longo prazo para estimular o setor.

¿ Se o governo anunciar que não vai prorrogar o desconto do IPI, vamos vender muito em outubro, porque o varejo vai querer formar estoques com preços ainda sem o imposto. Mas temo pelos resultados das vendas em novembro e dezembro ¿ prevê o presidente da Associação Nacional de Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos (Eletros), Lourival Kiçula, acrescentando que a negociação de parte das encomendas com o varejo ainda depende dessa definição.