Título: Desigualdade caiu menos com entrada no mercado de trabalhador sem renda
Autor: Almeida, Cássia
Fonte: O Globo, 22/09/2009, Economia, p. 25

No topo da pirâmide, também há vagas para pessoal mais qualificado

RIO e BRASÍLIA. Depois de ver a desigualdade no mercado de trabalho brasileiro cair 2,4% em 2007, os números de 2008 frustraram.

A queda no Índice de Gini, que mede a concentração de renda e quanto mais perto de zero mais igualitária é a sociedade, foi de 1,3% e trouxe a pergunta: o que aconteceu para diminuir o ritmo no caminho da igualdade? Os especialistas ainda estão cruzando dados para responder com exatidão a essa questão. Mas a melhora no mercado de trabalho, com o aumento de 2,5 milhões no número de ocupados, fazendo a taxa de desemprego despencar de 8,1% para 7,1%, é uma das explicações. Para o economista Marcelo Neri, da Fundação Getulio Vargas (FGV), o mercado gerou muito emprego e incluiu trabalhadores sem renda, os mais pobres.

¿ Isso gera efeitos na medição da desigualdade. Quando essas pessoas são absorvidas pelo mercado, faz a desigualdade cair mais devagar ¿ diz ele, lembrando que os salários oferecidos, nesse caso, são menores.

E a Pnad mostrou isso, o número de trabalhadores sem remuneração caiu 13,2%, o que representou menos 701 mil pessoas nessas condições.

Neri usa a renda domiciliar per capita, incluindo as pessoas sem renda (e não inclui ganhos do trabalho), e nessa medida o Índice de Gini está caindo na mesma proporção: 1,3% em 2007 e 1,15% em 2008.

Lula reconhece que ganhos sociais foram mais lentos A economista Sonia Rocha, do Instituto de Estudos de Trabalho e Sociedade (Iets), também vê esse fenômeno, mas ela acrescenta outro ingrediente ao debate: o mercado de trabalho está buscando mão de obra qualificada, inchando os salários no topo.

¿ É uma hipótese a se considerar.

Os ganhos na base também foram menores. Em anos anteriores, foram maiores.

Mesmo em grau inferior, os 10% mais pobres viram sua renda crescer mais em 2008: 4,6% contra 0,3% dos 10% mais ricos.

Na média, a alta foi 1,7%. Sonia concorda com Neri, de que a absorção em 2008 de trabalhadores que não tinham renda em 2007 pode ter feito a desigualdade cair mais devagar.

Marcelo Medeiros, professor da UnB e ex-coordenador do Centro Internacional de Pobreza da ONU, faz um alerta: ¿ É preciso investir pesadamente no ensino médio. Está muito aquém do nível que deveria estar. Temos que expandir o ensino superior agora.

Em Brasília, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva comemorou os resultados da Pnad, mas reconheceu que os avanços sociais foram lentos. O presidente destacou a melhora do mercado de trabalho, do saneamento e do acesso à internet, mas disse que a redução do analfabetismo é mais lenta.

¿ Eu fiquei feliz com a pesquisa, porque ela demonstra que há um avanço nas conquistas sociais. Um avanço lento, mas que vem como se fôssemos subindo uma escada, degrau por degrau, e a cada ano, vem melhorando muito.