Título: Três vezes grau de investimento
Autor: Frisch, Felipe
Fonte: O Globo, 23/09/2009, Economia, p. 21

Moody"s chancela Brasil como país seguro para aplicar, o primeiro na crise a obter a classificação

Um ano e cinco meses depois de a agência de classificação de risco Standard & Poor¿s (S&P) elevar a nota dos títulos da dívida brasileira ao patamar de ¿grau de investimento¿, ontem foi a vez de a Moody¿s, outra das três grandes do mundo, alçar o Brasil ao nível de avaliação dado a países onde é seguro aplicar recursos. A Moody¿s elevou a nota brasileira de ¿Ba1¿, que correspondia a ¿grau especulativo¿ em sua escala, para ¿Baa3¿, primeiro andar do chamado ¿grau de investimento¿.

Foi o primeiro país a receber a classificação da agência desde o agravamento da crise financeira global, em setembro de 2008, segundo informou a BBC Brasil. A nota permite a compra de papéis do país por grandes fundos e investidores internacionais.

A Fitch dera rating equivalente no fim de maio do ano passado, um mês depois da S&P.

No comunicado enviado ao mercado, a Moody¿s destacou a resistência do Brasil à crise. ¿A elevação reflete o reconhecimento pela Moody¿s de que a capacidade de absorção de choques, incluindo a capacidade de resposta das autoridades, aponta para uma melhora significativa do perfil de crédito soberano do Brasil,¿ diz a nota, assinada por Mauro Leos, diretor regional da Moody¿s para a América Latina. Segundo a agência, a contração do Produto Interno Bruto (PIB, soma de bens e serviços produzidos pelo país) por um curto período de tempo, a redução mínima nas reservas internacionais, a ¿moderada deterioração dos indicadores de dívida do governo¿ e a ¿ausência de estresse financeiro no sistema bancário¿ são típicas de países cujas dívidas são consideradas grau de investimento.

No comunicado, Leos afirma que a elevação da nota é ¿parte de um processo contínuo para identificar países que se tornaram vencedores durante o período de turbulência financeira e econômica global¿. Segundo o executivo, este processo levou a uma revisão dos ratings soberanos para alguns países cujos perfis de crédito soberano provaram ser menos vulneráveis na comparação a seus pares.

Foi o caso da Indonésia, que na semana passada foi elevada de Ba3 para Ba2, ainda grau especulativo.

Em Nova York, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, comemorou a melhora da nota, mas disse que a notícia deve levar a uma pressão maior sobre o câmbio. Ele previu maiores intervenções do Banco Central (BC) para corrigir os efeitos do aumento da entrada de dólares de investidores internacionais.

¿ A notícia mostra que a economia brasileira é a primeira a sair da crise e de uma forma mais rápida e segura do que outros países. A Moody¿s hesitava em dar esta classificação ao Brasil porque não computava as reservas brasileiras na avaliação da economia e do nosso balanço fiscal. Mas, do ponto de vista fiscal, agora estamos muito bem e eles reconheceram isto ¿ disse o ministro, que passou o dia reunido com analistas da agência americana.

O presidente do BC, Henrique Meirelles, disse que a elevação foi ¿importante¿ por ter ocorrido ainda com o mundo em crise.

¿ O Brasil foi classificado pela agência como um país vencedor. Isso é uma frase forte ¿ disse Meirelles.

No relatório, Leos alerta que ¿a capacidade das autoridades de implementar iniciativas que reiniciem tendências positivas nas contas fiscais será de extrema importância para assegurar uma melhora contínua no rating soberano do Brasil, dentro do grupo dos Baa¿.

Bolsa sobe; capital externo deve crescer

Perguntado sobre o assunto, Meirelles assegurou o compromisso do governo com as metas fiscais.

¿ O que a agência diz é que espera que, de fato, como muitos outros países, aquela trajetória virtuosa do Brasil, de superávits primários, seja retomada.

Isso já foi anunciado pelo governo, o compromisso para a meta de superávit primário para 2010.

Diferentemente do que fizeram S&P e Fitch, que colocaram as então novas notas do Brasil em perspectiva estável, a Moody¿s colocou a nota brasileira em perspectiva positiva, o que significa que pode haver uma revisão nos próximos meses. O motivo pode ser o fato de a agência ter ficado atrasada em relação às outras para dar o grau de investimento, avalia Alexandre Póvoa, diretor da Modal Asset Management.

¿ Isso é mais representativo, mostra que pode haver outras elevações ¿ diz Póvoa.

O atraso teria ocorrido em razão do agravamento da crise mundial no meio do caminho, em setembro do ano passado, pouco após a elevação da nota brasileira por Fitch e S&P, avalia o economista-chefe do Banco Fator, José Francisco Gonçalves: ¿ A crise adiou essa mudança.

Quem não reavaliou em abril ou maio perdeu o momento, porque a Bolsa começou a virar em junho. Dali em diante, ficava muito difícil alguém fazer alguma revisão importante.

Apesar de ter sido bem recebida pelo mercado, a notícia foi absorvida em pouco tempo pelos investidores. O Índice Bovespa (Ibovespa), da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), já vinha em alta em torno de 1% durante boa parte do dia. Com o anúncio, próximo das 16h40m, o índice bateu 62.017 pontos, uma alta de 1,79%, atingindo a máxima do dia. Foi a primeira vez que o índice passou dos 62 mil pontos este ano e desde 1ode julho do ano passado. No entanto, investidores começaram a embolsar parte dos ganhos ontem mesmo e o Ibovespa fechou em alta de 0,93%, aos 61.493 pontos, nível mais alto desde julho de 2008. O dólar fechou a R$ 1,798, em queda de 1,10% e na menor cotação desde 12 de setembro de 2008.

¿ De alguma forma, o mercado já estava colocando isso no preço, os investidores externos estavam trabalhando com isso ¿ diz Álvaro Bandeira, economista-chefe da Ágora.

A Moody¿s anunciou em julho que estava revisando a nota brasileira, processo que tem prazo três meses e, portanto, estava próximo do fim.

Para os analistas, a curto prazo, a nova nota não traz muitas mudanças.

Mas, a médio e longo prazos, a nota pode trazer recursos ao Brasil, já que alguns fundos de pensão e de investimento estrangeiros precisam que a nota tenha sido dada por três agências de risco para permitir a aplicação neste país ou em empresas sediadas nele.

¿ A maioria dos fundos precisa de dois graus de investimento, mas alguns precisam de três. Essa chancela coloca o Brasil em posição muito favorável ¿ diz Póvoa, da Modal.

Com a revisão da nota brasileira, a Moody¿s elevou também a de diversas empresas do país, em alguns casos para grau de investimento, como nos de Bradesco, Santander, HSBC, Caixa, Citibank, Banco do Brasil e Itaú Unibanco.

As notas de AmBev e Telemar, que já eram grau de investimento, foram elevadas de ¿Baa3¿ para ¿Baa2¿, um patamar acima.

O QUE É `RATING¿

É uma nota que agências internacionais atribuem a um emissor de títulos (país ou empresa) de acordo com sua capacidade de pagar uma dívida. Ela serve para que investidores saibam o risco dos títulos que estão comprando. As principais são Standard & Poor"s (S&P), Fitch e Moody"s, que levam em conta indicadores como gastos do governo, dívida externa e política monetária. Quanto melhor o ¿rating¿ de um emissor, menor o seu custo ao tomar empréstimos no exterior. Em abril de 2008, a S&P foi a primeira a tirar o Brasil do grupo de países de "grau especulativo", ou seja, cujos títulos não são considerados confiáveis. Logo depois, em maio de 2008, a Fitch também classificou o país como "grau de investimento". Ontem, a Moody"s elevou o ¿rating¿ do Brasil em moeda local e estrangeira de Ba1 (grau especulativo) para Baa3 (grau de investimento). Veja quem está abaixo e acima do Brasil na avaliação da agência: