Título: A caminho da Índia, açúcar sobe 46% no Brasil
Autor: Ribeiro, Fabiana
Fonte: O Globo, 23/09/2009, Economia, p. 23

Seca provoca quebra de safra do segundo maior produtor mundial e gera impacto também nos preços dos combustíveis

Uma quebra de safra de cana de açúcar na Índia tornou mais caros o açúcar e o combustível para o brasileiro. Isso porque o país asiático ¿ segundo maior produtor e um dos grandes consumidores mundiais de açúcar ¿ passou de exportador para importador do produto no último ano, reduzindo a oferta no mercado internacional. Em resposta, a cotação do açúcar praticamente dobrou de um ano para o outro, e o Brasil ¿ o maior produtor do mundo ¿ passou a exportar mais. Com menos oferta no mercado doméstico, o açúcar ficou até 46% mais caro para as famílias brasileiras nos últimos 30 dias. E as perspectivas não são as melhores, avisam especialistas. O quilo do açúcar pode ultrapassar, ainda este ano, a casa dos R$ 2.

No caso do álcool, outro derivado da cana, a alta dos preços nos postos de gasolina foi uma consequência do menor investimento na sua produção, já que os produtores ficaram mais atraídos pela cotação do açúcar no mercado internacional ¿ quase 70% a mais que o do etanol. Hoje, o açúcar representa 40% da produção de cana.

No ano que vem, as projeções chegam a 43%. Os dados são da União da Indústria de Cana-deAçúcar (Unica).

¿ Com esse déficit mundial de açúcar, os preços subiram no maior nível dos últimos 28 anos.

E os preços estão altos em plena safra ¿ lembrou o diretor Antonio Pádua, da Unica.

Supermercado espera retração nas vendas Segundo José de Sousa, presidente da Bolsa de Gêneros Alimentícios do Rio, os reflexos desta alta devem se dar até, pelo menos, novembro. Há um mês, o quilo do alimento custava de R$ 0,90 a R$ 1,20 no atacado. Agora, varia de R$ 1,40 a R$ 1,60. No varejo, o preço médio está entre R$ 1,50 e 1,90, após período em que custou entre R$ 1,10 e R$ 1,30.

¿ O consumidor poderá ter de pagar até R$ 2,30 por um saco de açúcar. Mas não é somente o mercado externo que regula os preços: o consumidor, ao frear as compras, também mexe com os preços ¿ diz José de Sousa.

Uma retração nas vendas de açúcar é o que espera Genival de Souza, diretor do supermercado Prezunic. Ele acredita que os preços devem subir mais até dezembro: ¿ Quando o preço chegar a R$ 2, deve haver uma diminuição no consumo. Para o consumidor, esse freio significa um corte na lista, pois não há produtos substitutos.

A consumidora Cléo Vicente sabe disso. Ela faz bolos e doces para vender e, por isso, precisa ter sempre açúcar em casa. Por mês, ela compra de 10 a 15 quilos do alimento. Mas não foi a quantidade que comprou quando foi ao mercado ontem: ¿ O preço subiu tanto que não adianta nem mais trocar as marcas. O que fiz foi comprar menos ¿ disse ela, que não vai repassar as altas para seus clientes. ¿ Vou fazer uma pesquisa de preços para comprar a quantidade que falta.

Essa medida terá de ser tomada até meados de 2010, indica Sérgio Torquato, Pesquisador Científico do Instituto de Economia Agrícola (IEA). Ele conta que, apesar das altas, a maior parte da entressafra da cana das regiões Centro-Sul acontece entre dezembro e abril.

¿ Nesse período, os preços ficam ainda mais altos, pois haverá ainda menos oferta do produto no mercado interno ¿ disse Torquato, acrescentando que a cotação futura para março de 2010 aponta para um acréscimo de 6,5%.

Segundo Eduardo Baczynski, economista da Platina Investimentos, a variação da cana de açúcar este ano foi de 71% e, até 21 de setembro, o açúcar subiu 8,38% (média das quatro últimas semanas). O comportamento do açúcar, contudo, não coloca em risco o controle da inflação.

¿ Açúcares e derivados pesam 0,74% no IPCA. Nesse grupo, apenas açúcar refinado e cristal juntos pesam 0,43%. Temos uma contribuição positiva de pouco mais de 0,03% no IPCA ¿ comentou.