Título: Sarney defende MST e critica 'demonização'
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Fonte: O Globo, 24/09/2009, O País, p. 8

Presidente do Senado sai em defesa dos sem-terra; CPI para investigar o movimento está prestes a ser instalada BRASÍLIA. O presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), defendeu ontem o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) em discurso no plenário da Casa. Sarney pediu que o movimento não seja demonizado.

O pronunciamento do expresidente da República, que criou o Ministério da Reforma Agrária em seu governo, acontece no momento em que o Senado está prestes a instalar, a partir de requerimento de Katia Abreu (DEM-TO), uma CPI que investigará o uso de verbas do governo pelo MST.

No longo discurso, citando a Roma do final do século II a.C.

para montar a defesa do MST, Sarney destacou que a violência no campo tem sido atribuída, por toda parte, ao movimento.

¿ Temos atrasado o processo de reforma agrária. Não modernizamos nossos métodos, não atualizamos nossas leis, não fomos, em suma, capazes de superar a imensa injustiça existente no campo. Somos todos nós, se não culpados, responsáveis, e sabemos que os sem-terra são vítimas de permanente frustração de sua esperança de poder ter um pequeno pedaço de terra para produzir ¿ disse Sarney, afirmando que vê um potencial de crescimento do confronto cada vez mais violento no campo: ¿ À frente o MST, mas também as Pastorais da Terra, entre tantos grupos. Temos que saber que a não realização da justiça social é o maior fator para esse risco. É um erro olhar o problema dos sem-terra pelo lado penal, criminalizálo.

Os excessos, e eles existem, devem ser punidos, bem como o respeito à propriedade. Mas não devemos radicalizar. Temos que evitar o confronto e não demonizar o MST.

Segundo Sarney, 370 mil famílias foram assentadas via MST, e outras 90 mil estariam em acampamentos da organização. Ele mencionou as mais de 400 associações e cooperativas que trabalham para produzir sem transgênicos e agrotóxicos, sob orientação do MST, e as cerca de 2 mil escolas com 10 mil professores e 300 mil estudantes criadas com a ajuda do movimento, além de parcerias com pelo menos 50 instituições de ensino.

¿ Mas teimamos em culpar a febre, em vez de combater a infecção generalizada. Assim, temos seguidamente investigado o MST. É um caminho que não traz nenhum resultado positivo para a solução do grande problema da distribuição fundiária e da política agrária.