Título: Mais uma polêmica no ar
Autor: Alves, Maria Elisa; Damasceno, Natanael
Fonte: O Globo, 24/09/2009, Rio, p. 12

Prefeito se irrita com projeto de ponte aérea para SP no Aeroporto de Jacarepaguá

Depois da briga do governador Sérgio Cabral por causa do esvaziamento do Aeroporto Internacional Tom Jobim e das reclamações contra o barulho dos aviões feitas por vizinhos do Santos Dumont, uma nova polêmica aérea entra em pauta. O anúncio da empresa Team Linhas Aéreas de que pretende operar uma nova ponte aérea ¿ ligando o Aeroporto de Jacarepaguá ao Campo de Marte, em São Paulo ¿ irritou o prefeito Eduardo Paes, que ontem declarou guerra ao projeto. Conforme informou a coluna Negócios & Cia, de Flávia Oliveira, no GLOBO, a companhia solicitou no mês passado, à Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), autorização para fazer voos regulares entre as duas cidades. Paes alegou que a prefeitura não foi consultada e que buscará medidas para evitar a instalação do terminal pela empresa: ¿ Estou querendo ser delicado.

Vou me controlar aqui para não fazer uma grosseria e me arrepender depois, mas a Anac poderia criar o habitozinho de conversar com a prefeitura e o governo do estado. A Anac poderia ter a gentileza, a delicadeza de consultar a prefeitura sobre o que ela acha de se colocar uma ponte aérea no Aeroporto de Jacarepaguá ¿ disse Paes. ¿ Vamos dar um jeito de encontrar medidas ambientais, multas e brigar contra isso. Por que a Anac não conversa antes? Por que não se senta à mesa? Que interesse é esse da Team em fazer isso? Segundo o prefeito, a comunidade é contrária à implantação da linha no Aeroporto de Jacarepaguá.

¿ É um desrespeito com a população da Barra. Por acaso, minha casa é perto do aeroporto. Ninguém ali quer ponte aérea.

Nova linha divide opinião de moradores

A intenção da Team, que já opera voos do Santos Dumont para Macaé, Campos e Vitória, é usar aeronaves tchecas, as LET 410, com capacidade para 19 passageiros, a partir do fim de outubro, em quatro voos diários de ida e volta. A Anac confirmou ontem, por meio de nota, ter recebido o pedido da Team Linhas Aéreas. A solicitação ainda estaria em análise.

O anúncio da criação da ponte aérea causou polêmica. O oceanógrafo David Zee, presidente em exercício da Câmara Comunitária da Barra, convocou uma reunião com moradores, comerciantes e síndicos de condomínios do bairro para discutir o assunto. Eles pretendem redigir um documento para ser enviado à Anac, pedindo que a decisão seja revista.

Acreditam que, já que os voos do Santos Dumont sofreram restrições por questões ambientais, é uma contradição querer ampliar o Aeroporto de Jacarepaguá.

¿ A Câmara Comunitária é totalmente contra e nós já comunicamos isso à Anac e à Infraero. Existem o risco ambiental e o de acidentes. É uma incongruência que, num momento em que todos os aeroportos localizados em áreas residenciais do mundo estão reduzindo seus voos ou fazendo restrições, as autoridades queiram ampliar a operação de um aeroporto que estava desativado. Ele está numa área que cresceu muito nos últimos dez anos e é considerada o coração da Barra. É como aproximar um fósforo de um explosivo ¿ comparou.

Zee recorda que, em março de 2008, um avião caiu sobre o pátio de uma concessionária de automóveis em construção na Avenida das Américas, por pouco não atingindo um condomínio: ¿ Era domingo, e o avião quase caiu numa piscina repleta de pessoas que participavam de uma festa. Por 30 metros não houve uma tragédia.

A deputada federal Solange Amaral disse já ter solicitado uma reunião com a presidente da Anac, Solange Paiva Vieira, para discutir a questão: ¿ Começam dizendo que vão ser poucos voos e ninguém sabe como acaba a história. Não podemos deixar a região virar Congonhas (Aeroporto de Congonhas, em São Paulo).

Na avaliação do presidente da Associação de Moradores da Freguesia, Jorge da Costa Pinto Figueiredo, o aumento do número de voos no aeroporto só vai trazer riscos e nenhum benefício. Ele criticou o fato de a população de Jacarepaguá e da Barra não ter sido consultada.

¿ A quem esses voos vão beneficiar? A alguns poucos moradores que usam com frequência avião. Em vez de ficar pensando em aumentar aeroporto, a população quer é a construção das linha 4 e 6 do metrô. Temos outras prioridades ¿ afirmou.

Apesar dos protestos da maioria, o diretor da Associação de Moradores do Tijucamar e Jardim Oceânico, Abdon Elias Alli, vê inúmeras vantagens na criação de voos regulares Rio-São Paulo a partir de Jacarepaguá: ¿ Para os moradores de Barra, Recreio e Jacarepaguá, será uma economia de tempo e de dinheiro. Hoje, com os engarrafamentos, uma viagem para São Paulo, que levaria 40 minutos de avião, dura duas horas, pelo tempo que se perde no tráfego.

O piloto Moisés Mena, que faz voos fretados no aeroporto de Jacarepaguá, onde também trabalha como instrutor, também é favorável: ¿ Essa rota já é feita por aviões fretados, jatinhos. Nada impede que seja feita regularmente por aviões de pequeno porte ¿ afirmou.

O Aeroporto de Jacarepaguá já esteve outras vezes no centro de discussões.

Foi assim quando foi anunciado o projeto de construção do Centro Metropolitano ¿ conjunto de terrenos de quase três milhões de metros quadrados entre as avenidas Ayrton Senna, Abelardo Bueno e Imperatriz Leopoldina. Em 2004, a prefeitura autorizou o projeto de um hospital nas imediações do aeroporto, sem a autorização do antigo DAC. O estacionamento do hospital, segundo os órgãos federais, ficaria num terreno não edificável, por ser zona de segurança aérea.

A obra acabou embargada pela Justiça. Atualmente, além dos planos de urbanização, a área está sendo requisitada para abrigar empreendimentos comerciais, como um shopping de seis andares, pelo menos mais dois prédios de escritórios, com cerca de 17 pavimentos cada, e residências de luxo. A ideia, segundo os empreendedores, é seguir o Plano Lúcio Costa, transformando o local num novo centro da cidade, com comércio, empresas e moradias.