Título: Bancários iniciam greve hoje em todo o país
Autor: Rodrigues, Lino; Ordoñez, Ramona
Fonte: O Globo, 24/09/2009, Economia, p. 32

Assembleias em vários estados decidem parar por tempo indeterminado, após rejeitar proposta de reajuste de 4,5%

SÃO PAULO, RIO e BRASíLIA. Bancários das redes pública e privada iniciam hoje greve por tempo indeterminado. A decisão foi tomada em assembleias realizadas ontem à noite no país. A categoria reúne mais 470 mil trabalhadores.

Aderiram à paralisação bancários de Rio, São Paulo, Distrito Federal, Pernambuco, Ceará, Espírito Santo, Santa Catarina, Rondônia e Acre. Bancários de Belo Horizonte, Porto Alegre, Curitiba e de cerca de 50 municípios do interior também vão cruzar os braços. A Federação Nacional dos Bancos (Fenaban), que negocia com a Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf), manteve a proposta inicial de reajuste de 4,5%, considerada insuficiente pelos bancários, que reivindicam 10%.

¿ A greve é uma resposta à irresponsabilidade dos bancos em não oferecer uma proposta à altura dos lucros acumulados no último ano ¿ disse Carlos Carneiro, presidente da Contraf e coordenador do comando de greve dos bancários.

A Fenaban disse que aguarda uma nova proposta dos representantes dos bancários. Carneiro, porém, afirmou que os bancos já foram comunicados da rejeição da proposta de reajuste de 4,5%, percentual abaixo do obtido por outras categorias profissionais, como metalúrgicos.

Eles reclamam ainda do baixo percentual destinado à Participação nos Lucros e Resultados (PLR) e da redução de até 46% do salário inicial dos bancários.

No acordo de 2008, a PLR chegou a 15% dos lucros, caindo para 5,5% este ano. Os bancários alegam que os bancos foram pouco afetados pela crise, já que o setor registrou lucro de R$ 19 bilhões no primeiro semestre de 2009, segundo o Banco Central.

¿ Eles (os bancos) têm condições de atender nossa pauta de reivindicações. A proposta apresentada ficou bem abaixo da do ano passado ¿ disse Carneiro.

Metalúrgicos de Ford e Volks voltam a cruzar os braços Já os metalúrgicos da Ford e da Volks de Taubaté (interior paulista), que haviam aprovado em assembleias a proposta inicial de reajuste de 6,53%, voltaram a cruzar os braços, mas aceitaram retornar ao trabalho hoje com a promessa de que as montadoras vão apresentar nova proposta até quarta-feira. Eles reivindicam o mesmo percentual concedido aos trabalhadores da GM de São José dos Campos: 8,3%, sendo 3,7% de aumento real, mais abono de R$ 1.950.

Os trabalhadores nas empresas de autopeças, máquinas e equipamentos e eletroeletrônicos nas regiões do ABC, Campinas, São José dos Campos, São Caetano e Taubaté continuam negociando. Os sindicalistas vão paralisar empresa por empresa para forçar a negociação. Eles pedem reajuste de 14,65%, sendo 8,53% de ganho real.

No ABC, a pressão das paralisações surtiu efeito. Ontem, 61 empresas de autopeças e eletroeletrônicos procuraram o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC para propor a volta ao trabalho em troca dos 6,53% de aumento nos salários, o mesmo concedido pelas montadoras da região, mais um abono igual a um terço do salário médio, o que varia conforme a média salarial do grupo que está inserido a empresa. O índice oferecido ficou bem acima dos 4,5% proposto pelo Sindipeças, sindicato que representa o setor de autopeças em São Paulo.

Por sua vez, os petroleiros, que têm data-base em setembro, querem aumento real de 10% além da reposição da inflação medida pelo ICV do Dieese, que de setembro do ano passado a agosto último foi de 3,75%. A Federação Única dos Petroleiros (FUP) e a Petrobras já realizaram quatro reuniões de negociação. e os sindicalistas deram até o dia 29 para a estatal se manifestar sobre as propostas. Os petroleiros também reivindicam questões relativas à segurança no trabalho ligadas à terceirização e a revogação das punições a cerca de 80 funcionários que participaram da greve de março.

Ontem a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT) fez um balanço da greve no setor, afirmando que o volume de carga com atraso até ontem abrangia 392 mil encomendas e 46,7 milhões de correspondências.

A ECT disse que o índice de adesão à greve caiu para 10% dos 109 mil empregados.