Título: Com preço menor, Petrobras importa GNL e reduz compra de gás da Bolívia
Autor: Ordoñez, Ramona
Fonte: O Globo, 24/09/2009, Economia, p. 33

Estatal injetou 14 milhões de m3 do produto no Estado do Rio esta semana

RIO e LA PAZ. A redução da dependência do gás natural importado da Bolívia já está permitindo à Petrobras optar pela compra de parte do produto de outras origens, de menor custo.

A diretora de Gás e Energia da estatal, Maria das Graças Foster, disse ao GLOBO que, no momento, é mais barato importar cargas já contratadas pela companhia de GNL (Gás Natural Liquefeito) ¿ transportado em navios na forma líquida ¿ do que comprar da Bolívia.

Na última terça-feira, a Petrobras injetou na rede de gás do Estado do Rio uma carga de 14 milhões de metros cúbicos (m3) de GNL. Mas a diretora destacou que a empresa continua cumprindo o contrato com a Yacimientos Petrolíferos Fiscales de Bolívia (YPFB), a estatal do país vizinho, que prevê a importação mínima de 19 milhões de m3 por dia de gás por mês. A média no ano é de 24 milhões de m3 diários, e o volume máximo de importação previsto no contrato é de 30 milhões de m3 por dia até 2019.

¿ Temos cargas já contratadas de GNL que tenho que trazer para o Brasil, e hoje é mais vantagem do que o gás da Bolívia. É uma questão de melhor custo de oportunidade ¿ afirmou Graça Foster.

Empresa nega revisão de contrato com Bolívia Na noite de terça-feira, o presidente da YPFB, Carlos Villegas, disse que o fornecimento para o Brasil estava na faixa de 16 milhões de m3 por dia e que, por isso, o país estaria sujeito a multa. E, na semana passada, o ministro de Hidrocarbonetos boliviano, Oscar Coca, dissera que as estatais dos dois países se reuniriam para revisar o contrato de compra e venda de gás até hoje. O gás é o item mais importante da pauta de exportações da Bolívia, e o Brasil é seu principal mercado.

Graça Foster nega as informações de Villegas e de Coca.

Segundo ela, nos primeiros dias de setembro, as importações têm oscilado em torno de 20 milhões de m3 por dia e que nunca ficou abaixo do mínimo de 19 milhões de m3 diários.

¿ Não tenho nenhum indício de redução das compras do gás da Bolívia, e tudo indica que a média de setembro deve ficar em 21 milhões de m3 por dia.

Agora, tenho as cargas de GNL e, sendo mais baratas do que o gás da Bolívia, vou colocá-las no mercado ¿ disse Graça Foster.

¿ A Petrobras jamais falou com a YPFB que queria sentar com a empresa para rever o contrato.

Isso não existe.

Em razão da crise política com a Bolívia em 2005, quando o mercado brasileiro de gás ficou ameaçado de desabastecimento, com possível corte no fornecimento do gás boliviano, a Petrobras construiu dois terminais de GNL, um no Rio de Janeiro e outro no Ceará, com capacidade de receber 21 milhões de m3 por dia de gás.

Com a retração na economia, o consumo de gás natural, principalmente o industrial caiu bastante no início do ano. Agora, porém, está se recuperando, segundo a diretora. Hoje, o consumo de gás nas indústrias está em torno de 25 milhões de m3 por dias de gás natural, apenas 2,5 milhões de m3 abaixo da média anterior à crise. Parte da indústria é abastecida com produção doméstica.

Petrobras faz leilão de gás para mercado secundário A diretora lembrou que a Petrobras, além do gás que disponibiliza no mercado, tem de ter disponíveis entre 12 milhões a 24 milhões de m3 por dia de gás para uso nas térmicas. Mas, com as fortes chuvas e os reservatórios das usinas cheios de água, a geração térmica é quase zero. A Petrobras tem realizado leilões para a venda dessas sobras de gás por períodos curtos de seis meses.

A Petrobras informou ontem ter realizado, na véspera, leilão para venda de gás natural, com prazo de fornecimento de outubro de 2009 a março de 2010. O leilão inaugurou nova modalidade contratual de comercialização junto às distribuidoras e o início do desenvolvimento do mercado secundário de gás no país. Foram comercializados 3,75 milhões de m3 por dia.

(*) Com agências internacionais