Título: Em Brasília, crise gera acaloradas discussões
Autor: Martins, Marília
Fonte: O Globo, 24/09/2009, O Mundo, p. 36

Senador chama Celso Amorim de trapalhão e critica inconsistência de política externa BRASÍLIA A crise em Tegucigalpa com a presença do presidente deposto de Honduras, Manuel Zelaya, na embaixada brasileira naquele país elevou o tom dos discursos ontem no Senado. Em virulento pronunciamento no plenário, o senador Demóstenes Torres (DEMGO) acusou o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, de ter envolvido o Brasil em uma ¿enrascada¿ ao dar proteção a Zelaya.

Além de críticas à política externa ¿ inconsistências no trato às ditaduras de Cuba e Honduras, o fracasso do apoio à candidatura egípcia na Unesco e a mediação das relações entre Irã e Estados Unidos ¿, o senador fez diversas ofensas pessoais ao ministro.

O senador Eduardo Suplicy (PT-SP) tentou defender o governo, mas acabou impedido pela discussão e o clima tenso, que levou à interrupção da sessão, após diversos alertas de campainha.

¿ Além de se envolver em assuntos internos de Honduras, o nosso Didi Mocó do Itamaraty convenceu o presidente do Brasil a usar a Assembleia Geral da ONU para pedir a volta de Zelaya, com o argumento de que no nosso tempo não cabem mais ditaduras. Só que o assunto seguinte do trapalhão foi a defesa da mais duradoura ditadura das Américas, a de Cuba ¿ atacou Demóstenes.

Segundo ele, o presidente Lula foi envolvido numa enrascada ao defender, no mesmo discurso na ONU, a volta de Zelaya e o fim do embargo a Cuba. De uma lista de atos que chamou de ¿patacoadas cometidas por Amorim¿, Demóstenes falou da tentativa de mediação entre Irã e EUA.

¿ Se Barack Obama tolerasse um mediador tão rastaquera, provaria ser atarantado como o Amorim texano que o antecedeu.

Comitiva da Câmara tenta viajar a Honduras A Comissão de Relações Exteriores da Câmara aprovou ontem o envio de uma com i t i v a a H o n d u r a s p a r a acompanhar a crise deflagrada com a ida do presidente deposto Manuel Zelaya para a embaixada brasileira no país. O grupo será integrado por seis deputados e viajará em avião da Força Aérea Brasileira.

No entanto, até o início da noite os deputados ainda não tinham conseguido autorização para pousar em solo hondurenho.

A comitiva foi criada a pedido dos deputados Ivan Valente (PSOL-SP) e Fernando Gabeira (PV-RJ). No entanto, Gabeira voltou atrás, criticou o abrigo a Zelaya e disse que o país perdeu a neutralidade na crise.

¿ O Brasil passou de mediador a contendor. Diante disso, acho muito difícil uma comitiva de deputados conseguir algum sucesso lá ¿ disse Gabeira, que pediu para ser retirado do grupo.

Na contramão dos colegas, Jair Bolsonaro (PP-RJ) e Fernando Chiarelli (PDT-SP) apresentaram moção de apoio ao golpe e ao presidente interinoRoberto Micheletti. O ofício acusa ¿esquerdóites¿ (sic) de liderarem o apoio a Zelaya.