Título: Para EUA, retorno de Zelaya força negociação
Autor: Martins, Marília
Fonte: O Globo, 24/09/2009, O Mundo, p. 36

Washington não descarta a participação de dissidentes do governo golpista na volta

WASHINGTON. O governo americano acredita que a volta do presidente deposto de Honduras, Manuel Zelaya, a Tegucigalpa vai forçar o governo golpista presidido por Roberto Micheletti a negociar, apesar de declarações anteriores do próprio presidente interino hondurenho afirmando que o presidente de Costa Rica, Óscar Arias ¿ coordenador do chamado Acordo de San José ¿, não estava autorizado a servir de mediador entre as partes. Segundo um diplomata do Departamento de Estado americano envolvido diretamente no caso de Honduras, o estresse político desencadeado com a volta de Zelaya força o governo golpista a se sentar à mesa de negociações.

OEA poderia assumir nova função de mediação Prova disso, diz ele, são as recentes declarações de Micheletti dando conta que admite conversar diretamente com Zelaya, enquanto o ministro das Relações Exteriores de Honduras, Carlos Lopez Contreras, aceitou receber a missão da OEA (Organização dos Estados Americanos) que está sendo coordenada pelo secretário-geral da entidade, José Miguel Insulza, e que terá a participação de chanceleres de outros países das Américas. Esta missão poderá servir como novo mediador entre os dois lados.

¿ Assim como o governo de fato de Honduras, nós também fomos surpreendidos com a volta de Zelaya, bem como a maioria dos países da região, mas acreditamos que a volta do presidente force a negociação. A pressão internacional está sendo intensa e coordenada para que este diálogo aconteça o mais brevemente possível ¿ diz o diplomata.

O governo dos Estados Unidos não descarta a participação de alguns integrantes do próprio governo golpista na volta de Zelaya a Tegucigalpa, dada a forma como tudo ocorreu, sem que o governo hondurenho detectasse a movimentação do presidente deposto. Para os americanos, é natural que numa situação extrema como esta haja dissidências dentro do próprio governo, ainda que não se saiba se um racha ocorre de fato dentro das Forças Armadas, como muitos vêm insinuando.

O diplomata observa que as duas partes concordam em vários pontos do Acordo de San José, mas há mais resistência por parte do governo golpista. De qualquer forma, há espaço para negociações dentro e fora do acordo, na opinião do governo americano.

Governos de Brasil e EUA mantêm contatos diários O Departamento de Estado dos EUA e o Ministério das Relações Exteriores do Brasil estão em contatos diários sobre a situação da embaixada brasileira em Honduras, e a preocupação maior das duas chancelarias é com a segurança dos que estão na embaixada e na inviolabilidade do próprio prédio.

¿ Brasil e Estados Unidos têm uma importante relação e muito trabalho pela frente, com o apoio da comunidade americana, para restaurar em Honduras os princípios democráticos e de respeito à Constituição que devem nortear a vida do povo hondurenho.

O governo de fato sabe que só tem a ganhar se concordar em sentar-se à mesa para dialogar com o presidente deposto. E sabe que pagará um preço alto se insistir na intransigência ¿ diz o diplomata.