Título: Eleições perdem legitimidade
Autor: Martins, Marília
Fonte: O Globo, 24/09/2009, O Mundo, p. 36

A volta de Manuel Zelaya reduz a legitimidade das eleições de 29 de novembro, tanto dentro quanto fora de Honduras, diz o economista hondurenho e ex-candidato à Presidência pelo Partido Inovação e Unidade Social Democrata Martín Barahona.

Ele conta que são dois os principais candidatos: um conservador que no último pleito perdeu para Zelaya e um ex-vicepresidente de Zelaya que mudou de lado, se aliou ao golpe e a empresários. Segundo Barahona, empresas oferecem descontos em seus negócios a quem votar.

Sabrina Valle

O GLOBO: Como a volta de Zelaya afeta o processo eleitoral em Honduras? MARTÍN BARAHONA: O país já estava em campanha há algumas semanas. As eleições vão ser legais pois foram convocadas pelo presidente antes do golpe, quando Zelaya ainda estava no poder. Mas desde os acontecimentos de 28 de junho o processo eleitoral perdeu apoio de grande parte da população. Fora de Honduras, quase todos os países e organismos internacionais já haviam anunciado que não reconheceriam as eleições realizadas pelo governo de fato. Com o retorno de Zelaya, vai ser ainda mais difícil que a população aceite as eleições como legítimas.

Quem são os principais candidatos? BARAHONA: Há cinco partidos e um candidato independente ¿ o que é uma novidade em três décadas de período democrático.

O Partido Liberal (de Zelaya) está dividido. Há uma facção aliada de Zelaya e outra ligada a seu ex-vice-presidente, Elvin Santos, que deixou o governo no ano passado, se aliou a grupos econômicos e a Roberto Micheletti e agora é candidato do partido. O candidato favorito é Pepe Lobos, do Partido Nacional (conservador), que disputou e perdeu as eleições passadas para Zelaya. Ele também está aliado aos grupos que apoiam o golpe.

Qual a influência dos setores privados? Há denúncias de que eles cresceram com contratos do Estado e têm influência política por serem financiadores de campanha.

BARAHONA: Sim, os empresários prometem descontos em seus negócios a quem votar. O governo de fato promete eleições transparentes, com observadores independentes, da imprensa e de igrejas, já que organizações internacionais como ONU e União Europeia contestam a legitimidade das eleições. O governo quer dar garantias para que a população aceite o pleito e vote. Nas eleições passadas, houve mais de 45% de abstenção.