Título: Na ONU, Lula defende a volta de Zelaya ao poder
Autor: Martins, Marília
Fonte: O Globo, 24/09/2009, O Mundo, p. 36

Durante discurso, presidente brasileiro condena ineficácia da OEA e pede ajuda do Conselho de Segurança para resolver o conflito em Honduras

NOVA YORK. Uma breve menção a Honduras, que entrou no discurso na última hora, acabou sendo o único momento que chamou a atenção no discurso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na abertura da Assembleia Geral das Nações Unidas, ontem, em Nova York. Lula pediu ajuda do Conselho de Segurança para resolver o conflito, por falta de uma ação eficaz da OEA: ¿ Sem vontade política, persistirão anacronismos como o embargo contra Cuba. Sem vontade política, continuarão a proliferar golpes de Estado como o que derrocou o presidente constitucional de Honduras, Manuel Zelaya, que se encontra, desde segundafeira, refugiado na Embaixada do Brasil em Tegucigalpa. A comunidade internacional exige que Zelaya reassuma imediatamente a Presidência de seu país e deve estar atenta à inviolabilidade da missão diplomática brasileira na capital hondurenha.

Outros presidentes latinoamericanos, como a argentina Cristina Kirchner e o venezuelano Hugo Chávez, defenderam a volta de Zelaya ao poder.

Presidente pedirá a Obama pressão por transição pacífica Mais tarde, em entrevista coletiva, Lula disse que o Brasil espera que o Conselho de Segurança resolva rapidamente o impasse em Honduras e pressione o governo de fato para uma transição pacífica.

Lula espera que essa solução seja encontrada no prazo de dois meses, a tempo de impedir que haja nova eleição presidida por Roberto Micheletti, e acrescentou que vai conversar com Obama sobre formas de pressionar o governo de fato em Tegucigalpa.

¿ Vocês falam de governo de fato em Honduras, mas isso é um jeito sofisticado de dizer golpista.

É golpista, golpista, golpista.

A gente não tem que ter medo das palavras ¿ disse.

O presidente pediu que as forças policiais em Tegucigalpa respeitem os direitos humanos e a integridade da Embaixada brasileira.

Disse ainda que a ONU vai juntar forças com a OEA e se colocou à disposição para ajudar no processo de negociação: ¿ Acho fundamental que a ONU e o Conselho de Segurança entrem nesta questão porque a OEA está tratando disso há tempos e não resolve. Vou conversar com Obama sobre este assunto.

Os EUA estão fazendo muito, mas podem fazer mais, inclusive no Conselho de Segurança. Nós não precisamos de meias palavras para explicar o que aconteceu em Honduras: houve um golpe de Estado, um presidente eleito democraticamente foi tirado de sua casa de madrugada e resolveu voltar ao seu país.

Lula disse que não mantém diálogo com o governo Micheletti e nem precisa se dar ao trabalho de definir se Zelaya é ou não um asilado político. E justificou o uso da embaixada brasileira como palanque político para Zelaya convocar manifestações pacíficas: ¿ Não sei qual o status jurídico de Zelaya. Para mim, ele é o presidente legítimo de Honduras e está abrigado e protegido na embaixada brasileira. E quem já sofreu perseguição política sabe que esta estada na embaixada não é confortável, e sempre tem muita gente para pouco espaço.

Lula defendeu também o direito de Zelaya fazer discursos a partir da embaixada: ¿ Ninguém vai esperar que Zelaya fique quietinho, escondido debaixo da cama, sem falar com ninguém, sem receber seus companheiros.

Ele tem todo o direito de se manifestar, desde que de forma pacífica. Nós queremos que ele fique na embaixada com todas as garantias internacionais e que os golpistas entendam que se há algo equivocado em Honduras não é a volta do Zelaya e sim eles continuarem no poder.

Lula viu no rompimento do diálogo com o presidente Óscar Arias, da Costa Rica, um sinal de ¿má vontade¿ de Micheletti.