Título: Nobel critica agências de risco
Autor: D'Ercole, Ronaldo
Fonte: O Globo, 24/08/2007, Economia, p. 27

TREMOR GLOBAL

Para economista, crise fará surgir um novo tipo de instituição.

O economista americano Edmund Phelps, ganhador do prêmio Nobel em 2006, afirmou ontem que uma das conseqüências da atual crise no mercado financeiro internacional deve ser o surgimento de um novo tipo de agências de classificação de risco (rating). Para Phelps, os instrumentos utilizados por agências como Standard & Poor"s (S&P) e Moody"s para avaliar os empréstimos de alto risco (subprime) do mercado hipotecário americano, estopim da atual turbulência, mostraram-se ineficientes.

- Pode-se dizer que as agências de rating não se cobriram de glória nos últimos meses - disse Phelps, sugerindo que elas erraram muito em suas análises. - Essas empresas não devem ser procuradas.

Segundo Phelps, que participou ontem do 3º Congresso Internacional de Derivativos e Mercado Financeiro, promovido pela Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F), as agências tendem a se concentrar no risco de inadimplência e não dispõem de ferramentas para medir o preços de novos ativos, como os subprime, que são negociados em escala global.

- Fomos surpreendidos pelos ativos lastreados em hipotecas, que caíram muito de preço - disse, ressaltando a importância de criar mecanismos, ou até instituições, capazes de formar preço desses ativos de forma rápida e transparente.

Na abertura do Congresso, quarta-feira à noite, o presidente do Conselho da BM&F, Manuel Felix Cintra Neto, já havia atacado as agências de rating, ao questionar por que os emergentes deveriam pagar por uma crise imobiliária no Hemisfério Norte, que, entre outras coisas, foi conseqüência de falhas dessas instituições:

- As mesmas agências que negam ao Brasil o grau de investimento deixaram no topo do ranking operadoras de subprime responsáveis pelo estouro da bolha imobiliária.

Já a ex-vice-diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional Anne Krueger admitiu que houve falhas, mas foi mais complacente. Segundo ela, as informações sobre quem detinha papéis subprime não estavam disponíveis para ninguém:

- Os próprios bancos não sabiam quem tinham comprado seus créditos, como as agências poderiam saber?

Quanto aos possíveis efeitos no Brasil da atual crise, Phelps afirmou que ela poderá reduzir o fluxo externo de recursos:

- Mesmo com uma desaceleração da economia americana, há excedentes grande de capital em outros mercados, e o Brasil pode ganhar sua parcela de investimentos. Talvez uma parcela um pouco menor.

Para ele, o Brasil precisa, neste momento, valer-se da participação que já tem no comércio global e investir no maior dinamismo de sua economia.

- Além da crise do mercado de crédito, as oportunidades são grandes para o Brasil, e a melhor maneira de aproveitá-las é dar foco ao dinamismo de sua economia, e não preocupar-se em reduzir sua vulnerabilidade - disse, lembrando que não existe imunidade zero.

Segundo Phelps, a economia americana passa por um momento crítico, mas a ação do Federal Reserve (o banco central dos EUA) e de outras autoridades monetárias, que já emprestaram mais de US$ 400 bilhões aos bancos, deve restabelecer a liquidez. Ele também disse que, para continuar crescendo, a economia mundial não precisa de uma nova locomotiva, que seria a China, como têm alardeado alguns economistas:

- Não há prova de que o crescimento de um país, ou de uma região, traduza-se em expansão rápida de outras economias.

(*) O repórter viajou a convite da BM&F